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Turquia acha pistas do assassinato de jornalista no consulado saudita

Trump e Mike Pompeo extraem da Arábia Saudita compromisso de investigar o desaparecimento de Jamal Khashoggi

Por Da Redação
Atualizado em 16 out 2018, 21h11 - Publicado em 16 out 2018, 17h51
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  • Em seu esforço para ajudar a Arábia Saudita a livrar-se do imbróglio do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, os Estados Unidos conseguiram extrair do governo de Riad um compromisso de realizar uma investigação “exaustiva” para esclarecer o caso. Na Turquia, investigadores encontraram evidências de assassinato de Khashoggi no consulado árabe em Ancara.

    O acordo deu-se durante os 15 minutos de encontro do secretário americano de Estado, Mike Pompeo, com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman.

    Jamal Khashoggi
    Jamal Khashoggi fala em evento em Londres, Inglaterra – 29/09/2018 (Middle East Monitor/Handout/Reuters)

    Crítico do governo de seu país, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos, apresentou-se no consulado da Arábia em Istambul no último dia 2 de outubro para buscar os papéis de seu casamento. Não há registros de sua saída do prédio e, desde então, ele é dado como desaparecido. O governo turco suspeita que tenha sido assassinato justamente por fazer oposição ao regime saudita.

    Diante das fortes repercussões internacionais, o secretário de Estado foi enviado urgentemente a Riad pelo próprio presidente americano, Donald Trump, para tentar minimizar o impacto deste caso. Durante seu rápido encontro com Salman, Trump telefonou para pedir ao príncipe a expansão da investigação.

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    Nos últimos dias, o presidente dos Estados Unidos tomou para si a tarefa de “porta-voz” da Arábia Saudita para a imprensa americana e internacional. Na segunda-feira, depois de conversar por telefone com Salman, afirmou que o desaparecimento de Khashoggi “poderia ser o resultado de assassinos fora de controle”. Em outras ocasiões, como hoje, explicou que as autoridades árabes desconhecem o que se passou no consulado com o jornalista.

    “Eu acabei de falar com o príncipe da coroa da Arábia Saudita, que negou totalmente qualquer conhecimento sobre o que aconteceu no seu consulado na Turquia”, disse Trump pelo Twitter nesta terça-feira (16). “Ele estava com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, durante a ligação e me disse que ele já começou, e irá expandir rapidamente, uma total e completa investigação sobre o tema. Respostas virão em breve.”

    Riad e Washington são “antigos e fortes aliados”, disse o príncipe herdeiro saudita, de 33 anos. “Enfrentamos juntos desafios, seja no passado, no presente ou no futuro”, acrescentou, segundo jornalistas que compareceram à chegada de Pompeo ao encontro. O americano teria agradecido a Salman “por seu compromisso de apoiar uma investigação exaustiva, transparente e em um prazo razoável”, segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.

    Pompeo e Salman deverão jantar nesta terça-feira. Amanhã, o secretário de Estado é esperado na Turquia, onde tratará da mesma questão com o governo de Recep Erdogan. Segundo autoridades turcas,  o jornalista estava exilado nos Estados Unidos desde 2017 e era uma “pedra no caminho” do príncipe herdeiro. Teria sido assassinado no consulado por agentes de Riad, que nega a acusação veementemente.

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    A imprensa americana, por sua vez, afirma que a Arábia Saudita estaria disposta a admitir que o jornalista morreu durante um interrogatório no consulado. Citando duas fontes anônimas, a CNN informou ontem que Riad teria preparado um relatório para tentar minimizar seu envolvimento no desaparecimento de Khashoggi. Para o Wall Street Journal, isto permitira à família real “afastar-se de um envolvimento direto” na morte de Khashoggi.

    A busca de uma solução aceitável para ambos os lados – e igualmente para a Turquia – evitará ruídos na aliança estratégica entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que se reflete sobretudo no Oriente Médio. Trump chegou a ameaçar Riad com um “castigo severo” no último sábado. A Arábia Saudita prometeu, no domingo, responder com retaliações. Tudo o que os dois lados esperam neste momento é baixar esse tom de animosidade.

    Pistas

    Os investigadores turcos que revistaram por oito horas o consulado saudita em Istambul, na noite de segunda-feira, encontraram evidências de que o jornalista foi assassinado no local, disse uma autoridade de alto escalão. A polícia da Turquia se prepara agora para revistar também a casa do cônsul saudita, Mohammad Al Otaibi, que deixou o país rumo a Riad.

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    Imagens de vigilância que foram vazadas mostraram carros diplomáticos saindo do consulado para a casa do cônsul pouco depois de Khashoggi ter entrado na representação consular saudita em Ancara.

    A equipe que realizou a inspeção de hoje inclui um promotor, um promotor adjunto, membros da polícia antiterrorismo e especialistas forenses. Certas áreas do consulado permaneceram fora dos limites dos investigadores, embora eles pudessem inspecionar as câmeras de vigilância instaladas naqueles locais.

    Erdogan disse a jornalistas que os investigadores procuraram vestígios de materiais “tóxicos” e sugeriu que algumas partes do prédio do consulado podem ter sido recentemente pintadas. Amostras de materiais, principalmente da terra do jardim da representação diplomática, foram coletadas, segundo um dos participantes da inspeção.

    “Minha esperança é que possamos chegar a conclusões que nos deem uma opinião razoável o mais breve possível porque a investigação está centrada em muitas coisas, como os materiais tóxicos e outros que receberam uma camada de pintura”, disse Erdogan.

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    Segundo o jornal The New York Times, as autoridades turcas identificaram cinco dos 15 suspeitos de terem assassinado Khashoggi. Um deles, Maher Abdulaziz Mutreb, foi fotografado em comitivas do príncipe herdeiro saudita em suas viagens ao exterior. Outros três foram vinculados por testemunhas à equipe de segurança de Salman e o quinto é um médico legista que atua em altas posições no Ministério do Interior da Arábia.

    Reações

    A alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu a suspensão da imunidade dos agentes diplomáticos sauditas que possam estar envolvidos no caso. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas concede esse benefício aos funcionários de representações de outros países e de organismos internacionais e às suas sedes.

    “Levando em consideração a gravidade da situação do desaparecimento de Khashoggi, acredito que a inviolabilidade ou a imunidade dos locais e dos funcionários envolvidos acordada por tratados como a Convenção de Viena de 1963 sobre as relações consulares teria que ser suspensa imediatamente”, afirmou.

    Sanções do setor privado já começaram a surgir em função do caso. O milionário britânico Richard Branson decidiu congelar os seus projetos na Arábia Saudita e várias personalidades cancelaram sua participação no “Future Investment Initiative”, o chamado Davos no Deserto, que acontecerá em Riad de 23 a 25 de outubro.

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    Apreciado particularmente pelo príncipe herdeiro, este encontro foi rechaçado por meios de comunicação como os jornais Financial Times e The New York Times e a revista The Economist.

    Na segunda-feira, Ari Emanuel, executivo da Endeavor, agência de famosos em Hollywood,  declarou-se “muito preocupado” com o caso Khashoggi. Há rumores de que um acordo de centenas de milhões de dólares da Endeavor com um fundo público de investimento saudita estaria ameaçado.

    (Com AFP, Reuters e Estadão Conteúdo)

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