Quatro anos após a saída de diplomatas de seus territórios, Turquia e Israel irão retomar relações, anunciou nesta quarta-feira, 17, o primeiro-ministro israelense, Yair Lapid. Apesar da confirmação, Ancara afirmou que irá continuar “defendendo os direitos dos palestinos”, tópico sensível que levou justamente ao distanciamento entre as nações.
“Decidimos aumentar novamente o nível das relações entre os dois países, para laços diplomáticos plenos e com o retorno dos embaixadores e cônsules-gerais dos países a seus postos”, afirmou o governo israelense comunicado. Ainda não há data para retorno do embaixador israelense em Ancara ou do embaixador turco em Tel Aviv.
Sinais de reaproximação já vinham sendo demonstrados há alguns meses entre as partes, sobretudo após o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, se tornar em maio o primeiro chanceler turco a viajar a Israel nos últimos 15 anos.
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Do lado turco, no entanto, Cavusoglu esclareceu que, apesar da reaproximação, a Turquia não deixará de defender “os direitos dos palestinos, de Jerusalém e de Gaza”.
“É importante que nossas mensagens (sobre a questão palestina) sejam transmitidas por meio do embaixador”, ressaltou.
Depois de diversas turbulências, incluindo a morte em 2010 de 10 civis em uma operação israelense contra um navio turco que tentava romper o bloqueio imposto por Israel a Gaza, a ruptura de fato das relações aconteceu em 2018. Na ocasião, 60 palestinos foram mortos durante um protesto em Gaza contra a instalação de uma embaixada dos EUA em Israel, o que fez com que a Turquia, em sinal de desaprovação, convocasse seu representante diplomático para consultas, e Israel respondesse com medida similar.
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À agência de notícias AFP, um porta-voz do grupo palestino Hamas, considerado terrorista por Israel, disse que a reaproximação é vista como uma legitimação da presença israelense na região. Segundo Basem Naim, é preciso que “todos os países árabes, muçulmanos e amigos isolem o ocupante e o pressionem para que responda aos direitos legítimos dos palestinos”.
Autoridades palestinas e relatores especiais da ONU nos territórios ocupados vêm pressionando por sanções sobre a ocupação de terras na Cisjordânia, o bloqueio de Gaza e o assassinato em larga escala de civis palestinos.
Segundo dados do Centro de Direitos Humanos Al Mezan, na Faixa de Gaza, cerca de 5.418 palestinos foram mortos por operações militares israelenses na região nos últimos 15 anos, incluindo 1.246 crianças e 488 mulheres. Recentemente, uma comissão de inquérito da ONU foi criada para investigar possíveis violações no território palestino ocupado, constatando em seu relatório final que Israel é responsável por graves violações de direitos humanos contra palestinos.