A Rússia anunciou um novo cessar-fogo parcial nesta quarta-feira, 9, para abertura de corredores humanitários para fuga de civis da capital da Ucrânia, Kiev, e outras quatro grandes cidades. A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, confirmou a informação, dizendo que aos corredores envolvem áreas como Mariupol, Chernihiv, Sumy e Kharkiv, a segunda maior cidade do país.
Poucas horas depois, no entanto, a prefeitura de Mariupol publicou um vídeo de uma maternidade devastada na cidade, dizendo que forças russas teriam lançado bombas de aviões.
“A destruição é enorme. O prédio da instalação médica onde crianças foram tratadas recentemente está completamente destruído. Informações sobre mortes ainda estão sendo esclarecidas”, disse o conselho municipal.
https://twitter.com/bopanc/status/1501576915555164163
Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, há crianças sob os escombros. Os relatos não puderam ser verificados de forma independente.
https://twitter.com/ZelenskyyUa/status/1501579520633102349
“Mariupol. Ataque direto de tropas russas contra o hospital madernidade. Pessoas, crianças estão sob os destroços. Atrocidade!”, escreveu em publicação no Twitter.
Em Mariupol, a saída de refugiados já havia sido interrompida na terça-feira, em uma tentativa anterior de cessar-fogo. Enquanto a Ucrânia fala em “promessas não cumpridas” por parte da Rússia, os russos acusam nacionalistas ucranianos de boicotes à operação.
A denúncia ucraniana foi feita por Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em publicação no Twitter. Segundo ele, força russas atacaram o comboio de oito caminhões e mais de 30 ônibus que levavam ajuda humanitária à cidade e retiravam civis para a região de Zaporizhzhia.
Em Sumy, a cerca de 300 quilômetros da capital, operações de retirada de moradores começaram por volta das 4h, horário de Brasília, segundo a prefeitura local. Não há relatos de ataques.
“A equipe de negociação trabalhou toda a noite e estendeu a operação do corredor humanitário de Sumy para Poltava hoje”, disse o chefe da administração regional, Dmytro Zhyvytskyy, nas redes sociais. “Os mesmos ônibus que usamos ontem (…) serão usados para transportar mulheres grávidas, mulheres com crianças, idosos e pessoas com deficiências”.
Além dos ônibus fretados, civis também estão deixando a cidade em carros particulares, segundo o prefeito de Sumy, Oleksandr Lysenko. Estima-se que, desde a terça-feira, cerca de 5.000 pessoas tenham deixado Sumy, que passou por ataques intensos nos últimos dias e está quase isolada do resto do país. Cerca de 21 pessoas morreram em um ataque aéreo contra uma área residencial na noite de segunda-feira, segundo autoridades locais.
Corredores humanitários
Um entendimento sobre corredores humanitários foi firmado durante a terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, que ocorreu na segunda-feira 7.
Após dois encontros na semana passada que renderam entendimentos escassos para proteção de civis, a terceira rodada de conversas terminou com “pequenos desenvolvimentos positivos”, segundo um representante ucraniano. Apesar do tom mais positivo, a implementação de corredores humanitários, que têm objetivo de facilitar a retirada de civis e a entrada de itens básicos como remédios, tem se mostrado difícil em cidades afetadas pela guerra.
Durante o fim de semana, duas tentativas de retirada de civis fracassaram. Grupos separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia trocaram acusações de violações à ordem de interromper momentaneamente o conflito.
A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis da região, usando a população como ‘escudo humano’. “Devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou de estender o cessar-fogo, as operações ofensivas foram retomadas”, disse o major-general Igor Konashenkov.
As autoridades da cidade de Mariupol, por sua vez, disseram que a retirada de civis foi adiada porque militares russos não estariam respeitando a trégua. As prefeituras de Mariupol e Volnovakha disseram que as cidades são alvos de bloqueios e ataques russos, impedindo a saída segura dos civis. Mesmo após o acordo, a Ucrânia vinha alegando desrespeito dos russos ao acordo com as regiões sendo alvos de constantes ataques. As duas cidades foram as únicas autorizadas a funcionar como um corredor de fuga para os civis.
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Mais de 2.000 civis foram mortos desde o início da invasão russa à Ucrânia, segundo Kiev, e centenas de estruturas, como instalações de transporte, hospitais, jardins de infância e prédios residenciais foram destruídos, relatou o serviço de emergência ucraniano na quarta-feira. Nesta segunda-feira, a Organização das Nações Unidas relatou que há mais de 1.200 pessoas afetadas, sejam mortas ou feridas, desde o início da guerra na Ucrânia. Ao todo, 406 pessoas teriam morrido, segundo levantamento da organização.