A União Europeia anunciou nesta quarta-feira, 6, que deixou de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, apesar de “lamentar profundamente” que os chavistas tenham assumido o controle da Assembleia Nacional após cinco anos de domínio da oposição. O posicionamento europeu é mais um golpe nas tentativas de Guaidó tomar o lugar do atual governante do país, Nicolás Maduro.
Em comunicado, o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borell, referiu-se ao líder da oposição como “um dos atores políticos” que estão tentando trazer a democracia de volta à Venezuela, deixando de lado os títulos de presidente interino ou líder do Parlamento. Posteriormente, um diplomata da União Europeia confirmou ao jornal britânico Financial Times que o bloco não o reconhece mais como tal.
Mesmo assim, Borrell lamentou que os chavistas tenham assumido o controle do Legislativo, dizendo que as eleições – marcadas pelo boicote da maioria da oposição e por um alto nível de abstenção – não foram democráticas e “falharam em respeitar os padrões internacionais”. O novo Parlamento tomou posse na terça-feira 5 e seu presidente, Jorge Rodríguez, já declarou que vai “exorcizar” a Assembleia.
O Parlamento de Guaidó, que alega que as votações de dezembro foram “uma farsa” e reivindica sua “continuidade”, agradeceu o “apoio de Borrell pela causa da liberdade”.
“A União Europeia, através de seu Alto Representante, rejeitou a fraude eleitoral perpetrada pela ditadura e não considera que seu resultado seja representativo da vontade democrática do povo venezuelano”, comunicou em nota.
De fato, Borrell pediu “às autoridades venezuelanas e líderes” para “se unirem para iniciar um processo de transição conduzido por venezuelanos, para encontrar uma solução pacífica, inclusiva e sustentável para a crise política”.
A União Europeia chegou a enviar uma missão a Caracas para pedir o adiamento das eleições legislativas, visando implementar uma missão de observação eleitoral, e agora se diz “pronta para tomar medidas adicionais” necessárias.
Além disso, o bloco considera o Parlamento liderado por Guaidó, eleito em 2015, como “a última expressão livre dos venezuelanos em um processo eleitoral”. Era nesse pleito que se baseava o reconhecimento a Guaidó como presidente da Assembleia Nacional. Nesta posição, ele declarou-se interino no início de 2019, dizendo que a reeleição de Maduro um ano antes foi fraudulenta.
Na terça-feira, porém, com a posse dos novos deputados – ainda que a eleição seja contestada –, o opositor perdeu a base legal para se declarar líder interino do país.
Guaidó chegou a ser reconhecido como presidente interino por quase 60 países, entre eles Brasil, Estados Unidos e a maioria dos Estados-membros da União Europeia. Tachando Maduro de “ditador”, alguns chegaram a permitir que ele nomeasse embaixadores, ocupando instalações diplomáticas da Venezuela. Mas o opositor nunca assumiu de fato o poder no país, que segue nas mãos de Maduro e seus aliados chavistas.
A troca do poder da última instituição do país que não era controlada pelos chavistas representa uma consolidação do alcance de Maduro. A oposição terá um comitê para enfrentar a Assembleia Nacional após cinco anos de luta para enfraquecer o líder venezuelano, mas a mudança no comando do congresso coloca um fim simbólico a essa disputa.
(Com AFP)