O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, sinalizou nesta terça-feira, em Estrasburgo, na França, que as portas do bloco continuam abertas para os britânicos, indicando, com isso, que o Brexit poderia ser revertido.
A declaração foi dada no Parlamento Europeu, ao comentar o processo de saída do bloco, o qual deve estar concluído em março de 2019.
Tusk recordou os deputados europeus reunidos em sessão plenária de que a realidade do Brexit se aproxima, “com todas as suas consequências negativas”.
“Se o governo britânico se apegar a sua decisão de ir embora, o Brexit se transformará em uma realidade com todas as consequências negativas (…), a menos que haja uma mudança de opinião por parte dos nossos colegas britânicos”, disse Tusk à Eurocâmara.
“Nós, no continente, ainda não mudamos de ideia. Nossos corações ainda estão abertos para vocês”, garantiu o dirigente, que coordena os trabalhos dos presidentes europeus em um debate sobre a cúpula de líderes celebrada em dezembro.
O polonês não hesitou em citar o ministro britânico encarregado do Brexit. “Não foi o próprio David Davis que disse que se uma democracia não pode mudar de opinião, não é uma democracia?”, ressaltou.
“Nossos corações continuam abertos”, concluiu, fazendo referência à expressão inglesa “change of heart”, que significa mudar de opinião.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reiterou, por sua vez, que “a porta da União Europeia continua aberta” e disse esperar que a mensagem de Tusk “seja clara em Londres”.
Segundo referendo?
Em um referendo em junho de 2016, os britânicos decidiram abandonar o bloco europeu. Na última semana, porém, ganhou força a ideia de uma segunda consulta ao fim das negociações de divórcio em curso entre Londres e Bruxelas.
Ferrenho defensor do Brexit, o político britânico Nigel Farage sugeriu, na quinta-feira passada, a possibilidade de realizar um segundo referendo sobre o tema, antes da saída definitiva. Sua ideia é silenciar definitivamente aqueles que se opõem à saída do bloco.
“Para ser claro, não quero um segundo referendo, mas temo que o Parlamento imponha um ao país”, disse ele em um artigo no site do Daily Telegraph.
Os liberais-democratas e outras forças pró-europeias no Reino Unido pediram repetidamente um segundo referendo, argumentando que os eleitores britânicos não compreenderam todas as implicações do processo em sua votação de 23 de junho de 2016. Naquele dia, uma pequena maioria de 52% dos britânicos votou a favor da saída da União Europeia.
Na semana passada, o porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que ela descarta a ideia de uma nova consulta popular.
Em entrevista ao jornal The Guardian, o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, afirmou que não está “convencido de que a opinião pública quer desesperadamente outro referendo sobre o Brexit”.
“Acabamos de fazer um, e acho que foi muito bom, mas foi algo que causou muita dor e introspecção”, apontou.
O eurodeputado Guy Verhofstadt, um ardoroso defensor da União Europeia, não perdeu a oportunidade nesta terça-feira de zombar das recentes declarações de Nigel Farage, que recentemente se encontrou com o negociador da UE para o Brexit, Michel Barnier.
“Desde que Farage voltou dessa reunião com Barnier, está confuso. Não sei o que o colocaram em seu chá, ou café, porque, ao sair da reunião, ele apoiou um segundo referendo”, ironizou Verhofstadt.
“Estamos nos aproximando da parte mais difícil das negociações e precisamos formalizar o acordo de retirada o mais rápido possível”, disse ele, mais seriamente.
Donald Tusk também insistiu em seu mantra já afirmado várias vezes: “O trabalho mais difícil está diante de nós, e o tempo é limitado”.
“O que precisamos hoje é de mais clareza sobre a visão britânica”, frisou.
Europeus e britânicos acordaram no fim de 2017 um esboço dos termos de sua separação. Agora, devem definir um período de transição pós-Brexit, antes que as discussões possam começar sobre seu futuro relacionamento comercial.