O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk afirmou que aqueles que estimularam irresponsavelmente a saída do Reino Unido da União Europeia terão um “lugar especial no inferno”. Tusk fez a declaração para a imprensa ao lado do primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, com quem se reuniu nesta quarta-feira, 6, em Bruxelas, para discutir o polêmico controle de fronteiras.
O líder europeu afirmou ter abandonado suas esperanças de que o Brexit possa ser revertido e afirmou que sua nova prioridade é impedir um “fiasco” desse processo, que se tornará realidade daqui a 50 dias, caso não haja um acordo entre britânicos e europeus.
Em Londres, houve reações irritadas às declarações de Tusk. Parlamentares pró-Brexit o acusaram de ser “arrogante”, e o escritório da primeira-ministra, Theresa May, afirmou que o presidente do Conselho deveria questionar “se o uso deste tipo de linguagem é mesmo adequado.”
“Nós tivemos um referendo com uma campanha robusta e intensa neste país. No que foi o maior exercício de democracia de nossa história, o povo votou pela retirada da União Europeia”, refutou o porta-voz de May, acrescentando que o foco deveria estar na concretização do resultado aprovado pelos britânicos em 2016.
Tusk disse saber “que um número grande de pessoas ainda sonham com uma reversão desta decisão”. Mas destacou que a postura de negociação de May com o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, representa a ausência de força política em favor da permanência do Reino Unido no bloco.
A líder da Câmara dos Deputados, Andrea Leadsom, que também fez campanha a favor do Brexit, afirmou que o Tusk deveria se desculpar por seus comentários “vergonhosos” e “maldosos”. “Tenho certeza de que, quando ele refletir, poderá desejar que nunca tivesse feito tais declarações”, disse Leadsom à rádio da BBC.
Imediatamente após as suas declarações, a conta de Tusk no Twitter replicou seus comentários:
No final da entrevista à imprensa, Varadkar foi flagrado dizendo para Tusk que sua fala lhe renderia “fortes críticas da imprensa britânica”. Tusk concordou com a cabeça, e ambos deixaram a sala rindo.
Na próxima quinta-feira, 07, Theresa May deve se encontrar com autoridades da União Europeia, também em Bruxelas, aos quais levará as exigências dos parlamentares britânicos de renegociação do acordo com o bloco, de novembro passado.
Tusk e Varadkar insistiram que não existe a possibilidade de mudanças no texto, incluindo na questão da fronteiras entre as Irlandas, o chamado backstop, o artigo totalmente rejeitado pelo Parlamento. Varadkar disse que o acordo fechado em 2018 foi “o melhor possível”. Segundo ele, Dublin não desistirá de um backstop temporário, obrigando o Reino Unido a manter várias regras da União Europeia até que seja definida outra forma de evitar uma fronteira hostil entre os países.
“Nós queríamos que o ‘backstop’ nunca fosse utilizado. Mas a instabilidade da política britânica nas últimas semanas demonstrou exatamente o porque precisamos de uma garantia legal”.
Já Tusk afirmou que acredita em um consenso para o acordo, mas cobrou ações de May. “Espero que amanhã possamos ouvir uma sugestão realista da primeira-ministra sobre como podemos encerrar este impasse”.
(Com Reuters)