Os 27 países da União Europeia concordaram nesta quinta-feira, 23, com a adoção de um pacote de 540 bilhões de euros para a recuperação financeira e a manutenção dos sistemas de saúde em meio à pandemia da Covid-19. Além dessa ajuda, que entrará em vigor apenas em junho, os líderes europeus encarregaram a Comissão Europeia de elaborar o orçamento do bloco para os próximos sete anos, o primeiro sem a presença do Reino Unido.
“Essa pandemia está colocando nossas sociedades sob uma tensão séria. O bem-estar de cada estado-membro depende do bem-estar de toda a União Europeia. Estamos todos juntos nisso ”, disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
O pacote de 540 bilhões de euros (3,2 trilhões de reais) foi concluído em 9 de abril pelos ministros das Finanças dos países da zona do euro — que são apenas 19 dentre os membros do bloco europeu — com o foco na proteção aos empregos e aos negócios. O financiamento dos sistemas de saúde nacionais também está incluído e deve entrar em execução a partir de 1º de junho, como combinado pelas lideranças europeias.
A Europa está enfrentando um grave choque econômico por causa da pandemia da Covid-19 — na qual mais de 2,3 milhões de pessoas adoeceram no mundo, dentre as quais 1,2 milhão de europeus. O continente ainda responde por 64% das mais de 175.000 mortes provocadas pela doença, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) colhidos até esta quinta-feira.
Segundo autoridades e diplomatas europeus, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, estima que a pandemia possa cortar até 15% da produção econômica da zona do euro que, em 2018, chegou a 13,6 trilhões de dólares. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê declíneo de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro para 2020. Se confirmado, este será o pior ano da região desde que a moeda comum foi introduzida, em 1999.
Em referência ao investimento americano para a reconstrução europeia após a Segunda Guerra Mundial, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, disse que “todos pedimos por esse novo Plano Marshall para a Europa, mas com uma grande diferença: desta vez, os fundos não virão do exterior, mas dos países europeus”.
Orçamento 2021-27
Embora tenham consolidado o pacote de resgate financeiro, as lideranças europeias ainda não concluíram o orçamento para os próximos sete anos a ser aplicado a partir de 2021, deixando os detalhes mais polêmicos para serem decididos até meados de junho. A Comissão Europeia, braço executivo do bloco e liderado pela alemã Ursula von der Leyen, ficou encarregada de desenvolver o plano orçamentário.
Este será o primeiro orçamento europeu sem a presença do Reino Unido, que saiu da União Europeia no final de janeiro. Assim, o plano, que costuma movimentar cerca de 1 trilhão de euros, deve perder 75 bilhões de euros (80 bilhões de dólares) com o fim do financiamento britânico.
Ainda não decidida a cifra do orçamento, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, pediu por um investimento de até 1,6 trilhão de euros para a recuperação no pós-pandemia.
Expandir o orçamento não é uma medida que agrada a alguns países, como Holanda e Alemanha, que mais contribuem ao bloco e cujas economias foram menos impactadas pela pandemia, em comparação com a Itália e Espanha.
“As divisões permanecem”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron. “Se a [União Europeia] aumentar as suas dívidas por conta de empréstimos [a seus membros], isso não corresponderá à resposta de que precisamos”, concluiu.
(Com Reuters)