O chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, alertou nesta segunda-feira, 19, que a Venezuela “poderá entrar numa grave crise” caso o presidente Nicolás Maduro não comprove sua vitória nas urnas por meio da publicação das atas eleitorais. Ele afirmou que está “claro” que o chavista “se recusa” a divulgar os relatórios, que reúnem informações de cada centro de votação, e que “já deveria ter feito isso”.
“Se Maduro insistir em dizer que venceu e não quiser entender que, para a comunidade internacional, sem verificação, não há presunção de resultados, a Venezuela pode entrar em uma crise séria – todos nós estamos tentando evitar que isso aconteça”, disse Borrell a repórteres, na Universidade Internacional Menéndez Pelayo, na Espanha, onde ministra um curso.
O chefe da diplomacia da UE também classificou o apelo de Maduro ao Supremo Tribunal da Venezuela para “defendê-lo” como “o cúmulo do sarcasmo”. No início do mês, o líder de Caracas aumentou o tom contra o funcionário do bloco europeu, a quem chamou de “uma vergonha que levou a Ucrânia à guerra e agora lava as mãos” por cobrar as atas eleitorais. A declaração de Borrell desta segunda-feira tratou, então, sobre as críticas do líder venezuelano e ironizou que havia sido alvo de “palavras muito carinhosas”.
“Não é a primeira vez, mas eu tenho que insistir na mesma coisa: se os resultados não podem ser verificados, não podem ser aceitos e, por enquanto, não são verificáveis. Bem, melhor dizendo, eles são verificáveis através das informações fornecidas pela oposição”, disse ele, acrescentando que a oposição reuniu “80% ou mais” das atas e que o resultado “radicalmente diferente do que Maduro proclama”.
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Prisões e novas eleições
Além disso, Borrell destacou que há mais de 2.000 pessoas detidas em protestos da oposição e advertiu que “a repressão (do regime chavista) está a intensificar-se”. Ele também explicou que estão em curso negociações do bloco para uma transição política pacífica na Venezuela e pontuou que alguns países latino-americanos chegaram a propor a repetição de eleições e a partilha do poder entre o governo e a oposição”, como Brasil e Colômbia.
Em entrevista à Rádio T, de Curitiba, na última quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou sobre a possibilidade de um novo pleito em Caracas, apesar de destacar que o venezuelano “sabe que está devendo uma explicação”.
“Se ele (Maduro) tiver bom senso, poderia fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições e estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê nacional de que participe todo mundo e deixe entrar olheiros do mundo inteiro”, concluiu.
Ainda na semana passada, o alto representante da UE saudou a publicação do relatório das Nações Unidas sobre as eleições presidenciais venezuelanas. O documento frisa que há “falta de fundamento” nos resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão federal controlado pela ditadura.
“Saúdo a decisão do secretário-geral da ONU, António Guterres, de tornar público o relatório intercalar do Grupo de Peritos das Nações Unidas”, disse Borrell em comunicado. “Numa democracia, os resultados devem ser completos e verificáveis de forma independente para serem reconhecidos.” Neste momento crítico, a União Europeia reitera o seu apelo às autoridades eleitorais venezuelanas para que publiquem e verifiquem de forma independente os registros eleitorais.”
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Por que a oposição contesta o resultado?
Em 29 de julho, o CNE apontou a reeleição de Maduro com 51% dos votos, contra 44% de González, que substituiu María Corina, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista. Em contraste, levantamentos de boca de urna sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano.
Uma projeção da oposição com base em 80% dos boletins de urna que conseguiram obter mostrou resultado semelhante. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, sem a publicação das atas das zonas eleitorais.