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Venezuela lida com pandemia de Covid-19 como ameaça interna

Expatriados que tentam voltar ao país após perderem seus empregos em meio à crise mundial têm sido chamados de 'bio-terroristas'

Por Da Redação
19 ago 2020, 18h26

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e seus apoiadores têm perseguido médicos e especialistas, em especial aqueles com experiência no exterior, que questionam a versão do governo sobre a situação dos surtos de Covid-19 no país. Alguns desses são até mesmo acusados de disseminar a doença em atos de “bioterrorismo”.

Segundo moradores da cidade de San Cristóbal, por exemplo, que conta com mais de 1 milhão de habitantes, membros de grupos chavistas marcaram com cartazes as casas de famílias “suspeitas” de terem pelo menos um membro infectado. Algumas pessoas já foram ameaçadas de detenção por suspeita de estarem contaminadas.

“Esse é o único país do mundo onde ter Covid-19 é crime”, disse ao jornal The New York Times um membro da oposição venezuelana, Sergio Hidalgo, que, sob suspeita de estar infectado, foi abordado pela polícia em sua própria casa.

Ao todo, aponta o Times, sindicatos de profissionais da saúde contabilizaram pelo menos 12 médicos e enfermeiros que foram detidos por comentarem publicamente sobre a situação dos surtos no país.

Os principais perseguidos são os venezuelanos expatriados que furam controles fronteiriços, reforçados em meio à pandemia, para retornar à Venezuela.

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“Aqueles que atravessam a fronteira ilegalmente, vocês estão matando as suas famílias”, disse Maduro em um discurso no início de julho.

Ainda naquele mês, o Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas venezuelanas acusou as pessoas que auxiliam venezuelanos a retornar ilegalmente ao país de serem “bioterroristas”. Segundo a Fiocruz, o “bioterrorismo” é conceituado como a liberação intencional de produtos químicos ou agentes infecciosos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Desde março, segundo o governo da Colômbia, cerca de 95.000 venezuelanos expatriados retornaram à Venezuela após perderem seus empregos em meio à crise econômica causada pela pandemia. Outros 42.000 ainda permanecem amontoados em abrigos improvisados, como escolas e estações de ônibus fechadas, sob condições precárias, enquanto esperam a oportunidade de entrar legalmente no país.

O governo venezuelano registrou oficialmente até a segunda-feira 17 pouco mais de 31.000 casos da doença e 266 mortes desde o início da pandemia, informa relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ou seja, o Estado contabilizou apenas 1.100 contaminações e nove mortes a cada 1 milhão de habitantes. Esses números são comparáveis aos do Paraguai, que conta com uma população quatro vezes menor.

Especialistas sanitários, segundo o Times, afirmam que esses índices são resultados de baixíssimas taxas de testagem. Além de muitos contaminados não serem testados, os resultados dos testes podem levar semanas pelo fato de haver apenas dois laboratórios capazes de analisar as amostras.

No início deste mês, o governo venezuelano estendeu pela quinta vez um “estado de alerta”, decretado inicialmente em meados de março. O confinamento imposto pelo governo alterna períodos de “radicalização”, que obrigam o fechamento de negócios (com exceção de supermercados, farmácias e outros comércios considerados essenciais), e períodos de “flexibilização’, que permitem a reativação do restante dos setores.

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