Venezuela proíbe que redes de TV transmitam protestos ao vivo
Com a pressão do governo, as manifestações da oposição recebem pouco destaque na televisão
O governo da Venezuela proibiu as redes de televisão de realizarem coberturas ao vivo dos protestos. Segundo denúncias de funcionários da Globovisión, o órgão regulador das telecomunicações no país ameaça constantemente tirar do ar os canais que transmitirem imagens das manifestações sem declarações oficiais de membros do governo ou usarem palavras como “ditadura e “desobediência” em sua programação.
“A ameaça é diária”, afirmou um funcionário da Globovisión ao jornal argentino La Nación, que pediu para não ser identificado. “É a Conatel que decide a cobertura”, acrescentou, referindo-se à Comissão Nacional de Telecomunicações, órgão regulador do setor na Venezuela.
Com a pressão do governo, os protestos da oposição, cuja repressão já deixou quase 60 mortos, recebem menor destaque na televisão do que outros momentos de tensão política.
Nas poucas vezes em que o canal Globovisión transmite imagens ao vivo dos protestos, a cobertura não pode durar mais de um minuto e tem que, obrigatoriamente, vir seguida de uma declaração oficial da administração de Nicolás Maduro. Também segundo o La Nación, nos outros principais canais de televisão privados, as reportagens muitas vezes são editadas depois de prontas para suprimir palavras como “repressão” ou imagens que mostram o choque entre os guardas e os manifestantes.
O governo, que afirma ser vítima de um complô organizado pelos grandes meios de comunicação internacionais, já realizou reuniões com seus representantes para pedir moderação na cobertura.
Protestos
Neste domingo, a oposição anunciou que vai aumentar ainda mais a pressão nas ruas contra o presidente Nicolás Maduro para impedir a Assembleia Constituinte convocada pelo chefe de Estado. As manifestações já duram 58 dias e deixaram nove mortos, segundo a Justiça venezuelana.
A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) convocou para esta segunda-feira uma marcha até a Defensoria do Povo, no centro de Caracas, destino previsto em manifestações anteriores que acabaram bloqueadas por militares e policiais em meio a bombas de gás lacrimogêneo. “Todas as nossas lideranças estão claras: se permitirmos que se instaure essa fraude que querem disfarçar de Constituinte, a Venezuela estará perdida”, disse Freddy Guevara, vice-presidente do Parlamento, único poder controlado pela oposição.
Na terça-feira, os deputados vão a embaixadas e consulados de países que tiverem expressado preocupação com a crise venezuelana e farão uma sessão especial em homenagem aos mortos nos protestos. Para a quarta-feira está prevista outra mobilização até a chancelaria, no centro da capital.