A vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, anunciou nesta terça-feira 27 a reabertura de casos de “terrorismo” cometido na década de 1970 por guerrilheiros Montoneros, grupo ligado ao peronismo que lutou contra a ditadura militar (1976-1983). O anúncio ocorreu durante um evento no Senado argentino, convocado por ela, em homenagem ao Dia Internacional em Memória e Tributo às Vítimas do Terrorismo.
“Reabriremos todos os casos de vítimas do terrorismo para que a Justiça possa fazer o que deveria ter feito há mais de 20 anos”, disse a vice de Javier Milei. “Todos os Montoneros devem ser presos por fazer a nossa nação sangrar.”
Em um vídeo de abertura, uma série de ataques foram relembrados, desde a explosão da Embaixada de Israel e da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), nos anos 90, até o atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001. Também foram retratados os atos de terrorismo em Madri, em 2004, e em Paris, em 2015. Todos equiparados aos mortos e feridos pelos guerrilheiros argentinos. Não houve menção aos crimes, como torturas, mortes e sequestros durante o regime ditatorial, negados pela política ultradireitista.
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“Justiça, verdade e reparação”
Além da gravação, familiares de vítimas dos Montoneros discursaram no Senado para marcar a data. Entre eles estavam Claudia Rucci, filha do líder sindical José Ignacio Rucci, morto em 1973; Gloria Paulik, filha do policial Juan Paulik, em 1976; e Luis Czyzewski, pai de Paola, assassinada no ataque à AMIA, em Buenos Aires. Em abril, a Câmara Federal de Cassação Penal da Argentina, o mais alto tribunal criminal do país, culpou o Irã pelo atentado à associação israelita, orquestrado pelo Hezbollah, milícia libanesa apoiada pelo regime dos aiatolás.
“Hoje, encontrar-nos no Senado da Nação falando sobre o que queriam silenciar e eliminar é uma conquista imensa, que é apenas mais uma parte do longo caminho rumo à justiça, à verdade e à reparação para as vítimas do terrorismo”, afirmou Villarruel, que também criticou governos de esquerda anteriores.
“Parecia utópico que houvesse frestas da luz da verdade no muro de escuridão pestilenta que o kirchnerismo construiu ao longo da década mais dolorosa da nossa história”, cutucou.
Apesar de prometer que “todos” os casos serão levados à Justiça, ela não deu detalhes sobre quais medidas serão aplicadas para que isso se concretize. No passado, magistrados argentinos rejeitaram a reabertura porque os crimes tinham prescrito, já que não se tratavam de atentados à humanidade. Milei, apesar de ser conhecido por levantar dúvidas sobre a opressão da ditadura, também parece ter se afastado do assunto após deputados do seu partido, A Liberdade Avança, terem causado polêmica ao visitar, em julho, torturadores da época do regime.