Em 2020, o primeiro ano da pandemia, um slogan correu o mundo: “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), o grito contra o assassinato de George Floyd, um preto americano de 46 anos, pai de cinco filhos, que fora asfixiado pelo joelho de um policial branco, Derek Chauvin, durante uma abordagem em Minneapolis. O suposto crime de Floyd: ter feito compra numa loja de conveniência com uma nota falsa de 20 dólares. Na semana passada, os Estados Unidos pararam para acompanhar o julgamento de Chauvin, que na terça-feira, 20, foi considerado culpado por três acusações de homicídio. A pena, que pode chegar a 75 anos de reclusão, será anunciada nas próximas semanas. Mas o resultado já foi comemorado com festas e celebrações, sobretudo em Minneapolis, com a recorrente lembrança da frase repetida por Floyd durante os nove minutos que passou no chão: “Não consigo respirar”. O presidente Joe Biden classificou o veredicto como um “passo gigante em direção à justiça” em um país atormentado pelo racismo sistêmico e pela violência das forças de vigilância. Não por acaso, cerca de vinte minutos antes do anúncio da condenação de Chauvin, a adolescente negra Ma’Khia Bryant, de 16 anos, foi morta a tiros por agentes de segurança em frente à sua casa, em Ohio, após entrar em uma briga com outras jovens com quem dividia o lar adotivo. Há, ainda, como escreveu o ex-presidente Barack Obama, um longo caminho a ser percorrido para que a justiça seja realmente feita. É preciso sempre repetir: vidas negras importam.
Publicado em VEJA de 28 de abril de 2021, edição nº 2735