Um vídeo de intervenção policial em uma escola de Ensino Médio na região de Paris, na França, repercutiu amplamente no país nesta sexta-feira, 7. Na gravação, dezenas de estudantes são obrigados a se ajoelhar, com as mãos atrás da cabeça, enquanto são algemados.
Os jovens participavam de uma manifestação no colégio Saint-Exupéry em Mantes-la-Jolie, periferia da capital francesa, e se envolveram em confrontos com os policiais na quinta-feira 6. Ao menos 140 estudantes foram presos.
No vídeo, veiculado pela imprensa local e nas redes sociais, os alunos são vistos ajoelhados em fileira, algemados ou com as mãos na cabeça, muitos contra um muro. Eles estão em silêncio e olhando para o chão, enquanto são observados pelos policiais.
Segundo o delegado da cidade, Arnaud Verhille, os jovens foram presos por “agrupamento armado”, além de degradações e confronto com as forças de segurança. Cerca de 70 policiais foram mobilizados para a operação.
Ao jornal Le Monde, o ministro do Interior Christophe Castaner admitiu que as imagens divulgadas são “duras”, mas enfatizou o contexto que levou às prisões.
“Não foi um movimento do Ensino Médio, mas uma verdadeira violência urbana”, disse. “Havia cem pessoas encapuzadas e armadas com paus, com a firme intenção de lutar com a polícia”, completou, afirmando que muitos dos jovens que participaram do protesto não são estudantes.
No total, 280 escolas francesas realizaram protestos e bloqueios na quinta-feira em todo o país, levando à detenção de 700 pessoas, segundo a imprensa local. Os estudantes se juntaram ao movimento dos “coletes amarelos”, que mobiliza manifestantes em todo o país há pelo menos quatro semanas.
Os alunos querem o fim de uma reforma no currículo do Ensino Médio proposta pelo presidente Emmanuel Macron e mudanças no sistema de ingresso nas universidades do país. A associação de estudantes secundaristas FIDL pediu um ato “amplo e geral” e exige a renúncia do ministro da Educação.
Políticos e representantes da sociedade civil francesa expressaram indignação com o comportamento dos policiais exibido no vídeo.
“Quaisquer que sejam os incidentes, nada justifica essa humilhação dos menores, filmada e comentada”, declarou o secretário do Partido Socialista, Olivier Faure. Ele convocou os ministros do Interior e da Educação, Jean-Michel Blanquer, a reagir “rápido e corretamente”.
No Twitter, o advogado Jean Pierre Mignard classificou as gravações como “cenas de guerra” e disse que vai acionar o Defensor dos Direitos, autoridade administrativa que protege os direitos dos menores e luta contra as discriminações. “O que foi aquilo? A polícia não poderia simplesmente deixá-los sentados?”, tuitou.
Cecile Duflot, diretora da ONG Oxfam na França, afirmou que o vídeo mostra um comportamento “intolerável” da polícia.
Internautas franceses classificaram o tratamento dos policiais de “desumano”. “O próximo passo é a guilhotina?”, questionou um cidadão, citando o método de execução usado durante a Revolução Francesa.
Nathalie Coste, professora da escola Saint Exupery, compartilhou no Facebook sua preocupação com seus alunos, afirmando que a repressão do governo tem impedido a livre expressão dos estudantes do país.
Os protestos
O movimento dos “coletes amarelos” começou como resposta a um plano do governo de elevar taxas de combustível para desestimular o uso de carros e fazer uma transição para energia limpa.
O governo francês decidiu abandonar o aumento de forma definitiva, mas nada parece aplacar o ímpeto da mobilização. Atualmente, o movimento está cada vez mais heterogêneo e engloba diversas reivindicações.
Neste final de semana, são esperados mais protestos violentos em todo o país. Em Paris, o governo fechará Torre Eiffel e outros pontos turísticos para evitar a repetição dos tumultos do último sábado 2, quando carros foram incendiados e lojas saqueadas na Avenida Champs Élysées.
Ao todo, 89.000 policiais estarão presentes nas ruas em toda a França.
“Temos diante de nós pessoas que não vão se manifestar, mas sim para destruir. Por isso, temos que manter a segurança dos franceses e garantir que eles não questionem as instituições nem o nosso modo de vida”, afirmou o primeiro-ministro Edouard Philippe.