DOHA – O estádio era o Al Thumama, na capital do Catar, mas mais parecia algum dos campos de Casablanca ou Marrakesh, tamanho era o barulho que ecoava das arquibancadas. Desta vez, as camisas vermelhas não eram para Cristiano Ronaldo, que mais uma vez começou no banco de reservas, mas para a seleção do Marrocos, a grande sensação desta Copa do Mundo, que se tornou a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Mundial ao bater Portugal por 1 a 0, na tarde deste sábado, 10.
Youssef En-Nesyri, jogador do Sevilla, anotou o gol do histórico triunfo, que deve ter marcado o fim da trajetória de Cristiano Ronaldo em Mundiais, aos 37 anos, em sua quinta participação. Com o resultado, o Marrocos, que já havia eliminado a Espanha nas oitavas, enfrentará o vencedor de França e Inglaterra, que jogam neste sábado, a partir das 16h (de Brasília) no estádio Al Bayt.
Minutos antes de a bola rolar, estranhamente ainda havia muitos espaços vazios nas arquibancadas. Pouco depois, porém, a maioria dos espaços foi ocupada por 44.198 presentes, segundo a Fifa, e deu-se uma incrível festa marroquina. O técnico Fernando Santos optou por manter o plano que funcionou à perfeição na goleada por 6 a 1 sobre a Suíça, com o jovem Gonçalo Ramos na vaga de Cristiano Ronaldo. Desta vez, porém, Portugal teve mais dificuldades.
O jogador lusitano mais perigoso da primeira parte foi João Félix, que chegou perto em uma cabeçada bem defendida por Bono e em chute desviado que passou raspando o travessão. O jogo era bastante equilibrado e as estrelas africanas, En-Nesyry e Hakim Zyech assustaram, o primeiro com uma cabeçada para fora e o segundo com um chute de esquerda no centro do gol.
Empurrado pela torcida e marcando firme, especialmente com seu camisa 8, Azzedine Ounahi, uma das promessas da Copa, o Marrocos chegou ao gol aos 41 minutos, quando Attiat-Allah cruzou da esquerda, En-Nesyri subiu muito e antecipou o goleiro Diogo Costa, para cabecear para as redes. Portugal ainda acertou uma bola no travessão com Bruno Fernandes e reclamou de um pênalti, não assinalado, no próprio meia do Manchester United.
Portugal foi para cima na segunda etapa e logo aos sete minutos Fernando Santos mandou a campo Raphael Guerreiro e ele, Cristiano Ronaldo, extremamente vaiado pelos marroquinos ao entrar e a cada toque na bola. A seleção europeia pressionou e chegou muito perto em chute de Bruno Fernandes raspando o travessão e em outro de João Félix, uma bomba de esquerda defendida pelo goleiro Yassine Bono, outro jogador do Sevillla e destaque deste Mundial – nas oitavas, ele defendeu três pênaltis contra a Espanha.
Portugal seguiu no ataque, mas cometendo erros bobos de passe, por afobação. Cristiano Ronaldo queria jogo e aos 47 do segundo tempo teve uma boa chance, ao ganhar na corrida da defesa e chutar forte, para mais uma defesa firme de Bono. O jogo ficou ainda mais dramático quando Cheddira entra por cima em dividida com João Félix e foi expulso. Aboukhal ainda teve a chance em contra-ataque de ampliar o marcador, mas, displicente, tentou uma cavadinha decidida com facilidade.
No fim, atletas e torcedores que atravessaram o Maghreb rumo ao Oriente Médio festejaram como a ocasião pedia. Nomes como o goleiro Bono, o lateral Hakimi, o volante Amrabat, e os atacantes En-Nesyri e Zyech, e o técnico Walid Regragui, que assumiu o cargo há apenas três meses, já estão na história. É a África pela primeira vez entre os quatro melhores.