Afeito a toda sorte de teoria da conspiração, o presidente Jair Bolsonaro utilizou um argumento pouco crível para pressionar a ex-ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) a abandonar a pré-candidatura ao Senado pelo Distrito Federal. No início da semana, na reunião que selou a chapa do governador Ibaneis Rocha (MDB), candidato à reeleição, com a deputada e ex-chefe da Secretaria de Governo Flávia Arruda (PL) como nome ao Senado, Damares, que, filiada ao Republicanos, batia de frente com a parlamentar pela mesma vaga, foi informada pelo ex-capitão que a briga eleitoral de suas duas ex-ministras poderia facilitar o caminho para a ascensão da esquerda em Brasília.
Pelas pesquisas de intenção de votos, porém, não há elementos para endossar a avaliação do presidente. Levantamento da Quaest encomendado pelos Diários Associados e divulgado no último domingo mostra que, em um dos cenários, Flávia tem 36% das intenções de votos ao Senado contra 9% de Damares, também 9% do senador José Antônio Reguffe (União) e 8% da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania). Nomes de esquerda como a candidata da federação PT-PV-PCdoB Rosilene Corrêa (PT) tem 4%, enquanto Ana Prestes (PCdoB) tem 2%. Em outro cenário, sem Reguffe, Flávia Arruda continua com 36%, Damares sobe para 11%, e os representantes de esquerda se mantêm nos mesmos patamares: Rosilene Corrêa com 4% e Ana Prestes com 2%.
Na costura pela formação da chapa de Ibaneis Rocha à reeleição, para topar deixar uma competitiva posição como candidato ao governo e aceitar concorrer à Câmara, como anunciado na última terça-feira, 19, José Roberto Arruda impôs a condição de que Damares fosse rifada do páreo e Flávia, anunciada como candidata oficial do governo ao Senado. Nas últimas semanas, levado por um amigo próximo do presidente para uma reunião com Bolsonaro, Arruda colocou suas condições sob a mesa e recebeu, segundo interlocutores consultados por VEJA, um aceno de que ele “resolveria” a situação eleitoral da ex-ministra da Mulher. Defenestrada, Damares conta hoje com a pressão da primeira-dama Michelle Bolsonaro para conseguir se lançar eleitoralmente. Uma das possibilidades é à Câmara dos Deputados.