Desde o início do governo Lula, personagens do PT que tiveram a imagem chamuscada por escândalos vêm reconquistando protagonismo. A ex-presidente Dilma Rousseff, que foi defenestrada em um processo de impeachment devido às pedaladas fiscais, por exemplo, ganhou um cargo de presidente do banco dos BRICS. O ex-deputado João Paulo Cunha conquistou vultosos e milionários contratos de advocacia, inclusive do bilionário fundo de pensão Previ, do Banco do Brasil.
Mas há um personagem que nem o presidente da República e nem o PT ainda conseguiram resgatar: o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que conduziu a economia de março de 2006 a janeiro de 2015. Durante a transição de governo, no final de 2022, Lula chamou Mantega para compor a equipe, mas o ex-ministro teve de se afastar do grupo de planejamento, orçamento e gestão em função de uma condenação no TCU que o inabilitou para assumir cargos de confiança na administração pública.
Agora, Lula e o PT traçam uma estratégia para emplacar Guido Mantega no conselho da Vale, empresa que foi privatizada em 1997. O cargo garantiria a Mantega um salário mensal de mais de 100 mil reais. Não é a primeira vez que essa intervenção indevida acontece. No final de seu segundo mandato, Lula fez uma campanha para derrubar o então presidente da Vale, Roger Agnelli, que não rezava pela cartilha econômica petista. A pressão foi tanta que Agnelli foi afastado em 2011, primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff.
Conselheiro da Vale tenta resistir
A direção da Vale já recebeu a notícia de que Lula quer dar um cargo ao amigo. Um dos conselheiros da Vale disse a VEJA, sob a condição do anonimato, que o assunto ainda não foi levado oficialmente ao Conselho de Administração, mas ressalta que hoje seria difícil Lula e o PT influírem no comando da organização. “O PT está com a cabeça de vinte anos atrás, pois a Vale mudou muito. A Vale passou por uma reformulação muito grande em termos de governança”, diz o conselheiro.
Para o conselheiro, a tarefa de tentar emplacar Mantega na Vale teria de passar por seleção de currículo. “Quem elege o presidente da Vale é o Conselho — e os conselheiros, em sua maioria, são independentes — a partir da seleção e análise de currículos. O governo já não tem mais o recurso de impor o nome. O governo influi a partir das duas vagas que são da Previ”, diz uma fonte da direção da Vale. O mandato do atual CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, termina em maio.
Além da condenação do TCU, Mantega chegou a ser preso em 2106 pela Polícia Federal, em uma das fases da Operação Lava-Jato, por supostas fraudes no período em que ele foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras, acusado de operar um esquema de propina para facilitar negócios para o grupo do empresário Eike Batista.