Em outubro de 2020, quando mais de 154 mil pessoas já haviam morrido no país em razão da Covid-19, Jair Bolsonaro desautorizou o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mandando-o cancelar um protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina que era constantemente desacreditada pelo presidente da República. A decisão causou um duplo constrangimento, já que Pazuello ainda gravou um vídeo ao lado do chefe, no qual justificou o recuo forçado da seguinte forma: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece”.
A máxima do general, que acabou eleito este ano deputado federal pelo Rio de Janeiro, com a segunda maior votação no estado, serve também para explicar a relação entre Lula e o PT. O presidente eleito sempre foi maior politicamente do que o seu partido. Hoje, nenhum de seus colegas é capaz de lhe fazer sombra, como o ex-ministro José Dirceu fizera num passado distante.
É por isso que, independentemente de qual for o nome escolhido, os próprios integrantes do partido dizem que o ministro da Fazenda na prática será Lula. É por isso também que todos os petistas bem posicionados na corrida para o ministério estão evitando dar declarações públicas a respeito do tema. Ninguém quer correr o risco de desagradar ao chefe e ficar de fora da Esplanada. E todos sabem que qualquer declaração pública tem de ser combinada previamente com o presidente eleito.
Com Bolsonaro ou Lula, a lógica é simples assim: eles mandam, e os outros cumprem ordens. Sem contestação e, dependendo do caso, batendo continência.