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A nova bússola da política

Dono de um patrimônio político de 49 milhões de votos, Bolsonaro encerra 1º turno como a figura mais influente desde Lula, ao vencer em 2002

Por Ana Clara Costa Atualizado em 8 out 2018, 01h27 - Publicado em 8 out 2018, 00h35

Jair Bolsonaro terminará o dia 7 de outubro não só como o dono de um patrimônio político de 49 milhões de votos, mas também como a figura mais influente da política brasileira desde Lula, ao se tornar presidente, em 2002. Na história da redemocratização, nunca nenhum político foi para o segundo turno presidencial dispondo de tantos votos e com tamanha vantagem em relação ao segundo colocado (Fernando Haddad teve 31 milhões de votos). O PSL, partido nanico que elegeu um deputado em 2014 e hoje tem oito, disporá de uma bancada superior a 50 nomes na Câmara Federal, a segunda maior do país, atrás apenas do PT. Os maiores partidos até então (MDB, PSDB, DEM, PP) terão, em média, 30 cadeiras cada um. No Senado, a legenda terá quatro nomes: Flávio Bolsonaro (RJ), Major Olímpio (SP), Juíza Selma Arruda (MT) e Soraya Thronicke (MS). Trata-se de uma bancada que inexistia e hoje está em pé de igualdade àquelas dos partidos tradicionais.

São do PSL os deputados federais e estaduais com maior número de votos: Eduardo Bolsonaro (federal) e Janaína Paschoal (estadual) se tornaram os nomes mais votados da história, com cerca de 2 milhões de votos cada. Eduardo ultrapassou até mesmo o recorde de Enéas, eleito com 1,5 milhão de votos em 2002. Em São Paulo, estado em que a assembleia legislativa é majoritariamente tucana há pelo menos doze anos, o PSL tornou-se dominante, angariando o dobro de votos do PSDB e elegendo quinze deputados. Nos governos estaduais, candidatos do partido se classificaram para o segundo turno em três estados: Rondônia, Roraima e Santa Catarina.

Entre as surpresas desta eleição, como a ida ao segundo turno dos candidatos Romeu Zema (Novo-MG) e Wilson Witzel (PSC-RJ), há também um componente Bolsonaro: ambos desconhecidos e com tempo ínfimo de TV bateram forte no discurso de segurança pública e apelaram para o engajamento na internet. Ambos também declararam apoio ao presidenciável do PSL antes do final do primeiro turno e terminaram as votações com mais que o dobro de votos projetados pelos institutos de pesquisa. O tucano João Doria, cacifado para o segundo turno com 31% dos votos em São Paulo, não teve qualquer pudor em declarar apoio ao deputado do PSL antes mesmo de o cadáver político de Geraldo Alckmin esfriar.

O “tsunami Bolsonaro”, como vem sendo chamado o desempenho do presidenciável no primeiro turno, se equipara à onda Lula de 2002, em números. Naquele ano, embora o PT tenha tido importante derrota nos governos estaduais, vencendo apenas um dos oito pleitos que disputou, aumentou sua bancada para 14 senadores e cerca de 90 deputados federais. Os números são superlativos se comparados aos do PSL este ano, mas há de se considerar que o Congresso era menos pulverizado entre legendas nanicas e o PT já era um partido consolidado quando Lula venceu – vinha de 12 anos de disputas eleitorais para cargos majoritários.

Ainda não é possível quantificar qual porcentual de votos pró-Bolsonaro vem de apoio genuíno de seu eleitorado e qual decorre do antipetismo. Nesse aspecto, parte da votação do ex-capitão é também um voto sobre Lula – mais especificamente contra o petista. Já o segundo turno girará em torno de uma nova bússola: se o eleitor quer ou não Jair Bolsonaro na presidência da República. A rejeição ao PT já está consolidada no desempenho de Haddad, que conseguiu 29% dos votos válidos, o pior para um petista em pleito presidencial desde 1998. No Nordeste, onde Haddad venceu com 49% dos votos, trata-se do pior desempenho presidencial de toda a era petista na região. Se esses números deixam claro que a maioria do eleitorado já decidiu que não quer ser governada pela sigla, a próxima fase do pleito testará se a insatisfação com o PT será suficiente para fazer o centro migrar para Bolsonaro, ou se a ojeriza às ideias do deputado empurrará o eleitor de Ciro e Alckmin para Haddad – o que ainda não será suficiente para garantir ao PT a vitória. Bolsonaro ditará as regras nas próximas semanas e sobre elas o PT construirá a estratégia para tentar virar o jogo. É uma nova ordem que se instala num país que, nos últimos dezesseis anos, teve a política norteada por uma só figura.

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