A primeira missão de Sergio Cabral longe da cadeia
Após seis anos preso na Lava-Jato, ex-governador do Rio conseguiu liberdade no STF e já mira principal algoz, o juiz fluminense Marcelo Bretas
Passava das dez horas da noite quando o sistema interno do Supremo Tribunal Federal (STF) registrou, na sexta-feira, 16, o voto de desempate do decano do STF Gilmar Mendes em favor da revogação da prisão do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB). Depois de exatos 2.220 dias trás das grades, Cabral deixa o Batalhão da Polícia Militar em Niterói, no estado que governou por dois mandatos, com uma missão: questionar a parcialidade do juiz Marcelo Bretas, responsável pelo braço fluminense da Operação Lava-Jato e autor da maior parte das sentenças que levou o político a acumular condenações de mais de 425 anos de cadeia.
De acordo com o advogado Daniel Bialski, que integra a banca de defesa de Cabral, a intenção é alegar abusos e parcialidade do magistrado da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, estratégia que, aplicada ao ex-juiz de Curitiba Sergio Moro, representou o mais bem-sucedido mecanismo de descrédito da operação de combate ao esquema de corrupção instalado na Petrobras. No caso de Moro, o STF concluiu que ele perseguiu politicamente o presidente eleito Lula, que condenado a 26 anos por corrupção e lavagem de dinheiro, conseguiu ter seus processos anulados depois que vieram à tona diálogos dele com procuradores combinando estratégias, discutindo detalhes da investigação e demonstrando parceria entre juiz e acusação, o que é ilegal. Se bem-sucedida, a confirmação de eventuais ilegalidades de Bretas contra o ex-governador fluminense pode jogar por terra as provas e condenações reunidas contra ele ao longo de seis anos de investigação.
Conforme revelou VEJA em junho de 2021, o próprio Nythalmar Dias Ferreira Filho fechou um acordo de delação premiada que tem Marcelo Bretas como figura central de uma trama que envolve a negociação de penas para autoridades enroladas em investigações, combinação prévia de estratégias com o Ministério Público, manobra de processos e até atuação direta para influenciar as eleições de 2018 ao governo do Rio, vencidas à época pelo ex-juiz Wilson Witzel, que, tempos depois, acabou defenestrado em um processo de impeachment.