Passar cinco dias sem eletricidade não é fácil para ninguém — menos ainda para a sofrida população da Venezuela. Em meio a uma crise de abastecimento, muitos alimentos se estragaram, doentes morreram nos hospitais, paralisou-se o transporte público, lojas foram saqueadas e os computadores e celulares impedidos de conduzir transações eletrônicas, imprescindíveis desde que a falta de papel-moeda e a inflação fizeram sumir as notas de bolívar. Uma falha na linha de transmissão da subestação San Gerónimo B, que distribui a energia produzida na hidrelétrica de Guri, a quarta maior do mundo, deixou às escuras os 23 estados e o Distrito Capital. Depois de várias tentativas, na terça 12, a eletricidade começou a voltar, iluminando aos poucos os casebres da favela de Petare, a maior de Caracas. O apagão — um problema comum no país, embora raramente tão prolongado — serviu de munição para ataques dos dois oponentes que disputam o poder na Venezuela. Juan Guaidó, líder da oposição que tem mobilizado multidões em seguidas manifestações de rua, creditou a queda de energia à corrupção generalizada nos altos escalões e à crônica falta de manutenção, escassez de peças de reposição e debandada de técnicos graduados no setor elétrico. Nicolás Maduro, o herdeiro do chavismo, acusou os Estados Unidos — o principal avalista de Guaidó — de sabotagem. “Donald Trump é o responsável pelo ataque cibernético à rede elétrica da Venezuela”, proclamou. “Trata-se de uma tecnologia que só o governo americano domina.” Sem surpresa: hoje em dia, para Maduro, até unha encravada é culpa do imperialismo ianque.
Publicado em VEJA de 20 de março de 2019, edição nº 2626
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