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Aécio, Dilma, Janot… todos os citados em áudio de Joesley

Em quatro horas de conversa, delatores discorrem sobre personagens como a ex-presidente, parlamentares, ministros do STF, membros do MPF e governadores

Por Da Redação
Atualizado em 6 set 2017, 10h35 - Publicado em 5 set 2017, 22h37

Na noite de segunda-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, surpreendeu ao vir a público e anunciar a existência de um áudio com informações “gravíssimas” em que Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da JBS, trariam menções desonrosas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Além de, mais importante, falarem sobre crimes não confessados no acordo de delação premiada, o que pode levar à perda dos benefícios que foram concedidos a eles na delação – ambos obtiveram imunidade total em troca da colaboração com a Justiça.

Na manhã desta terça-feira, VEJA acessou com exclusividade o áudio, uma conversa de quatro horas repleta de menções a autoridades públicas, quatro ministros do STF, dois governadores de Estado, dois senadores e dois ex-ministros, entre outros. Abaixo, reunimos nome a nome todos os citados no diálogo entre os delatores. O principal fato não relatado que pode ameaçar a continuidade do acordo são os diversos momentos em que Joesley e Saud dão a entender que o então procurador da República Marcelo Miller, que deixou a assessoria de Janot para atuar em um escritório de advocacia que defende a JBS, atuava em favor da empresa quando ainda era integrante do Ministério Público Federal (MPF).

Veja abaixo todos os citados no áudio:

 

Aécio Neves, senador (PSDB-MG)

Aécio Neves retorna ao Senado
Senador Aécio Neves (PSDB-MG) discursa no plenário do Senado após 46 dias afastado – 04/07/2017 (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Joesley e Saud discutem quais serão os alvos das gravações que farão para corroborar a delação. Ao falar de Aécio, Joesley diz que considera o senador tucano como um político menor, mas que topa gravá-lo “só porque ele é bandidão mesmo”. O dono da JBS diz que outros políticos, perto de Aécio, seriam caso de “pequenas causas”. O Ministério Público afirma que a jornalista Andrea Neves, irmã do senador, pediu 40 milhões de reais ao empresário. Andrea alega que o dinheiro seria correspondente a um apartamento da mãe, no Rio de Janeiro, enquanto o advogado de Aécio, Alberto Toron, diz que as palavras dos delatores “não merecem crédito”. Leia mais aqui.

Anselmo Lopes, procurador da República

Integrante da força-tarefa da Operação Greenfield, que tem a JBS como um dos seus alvos, Anselmo é citado durante trecho do diálogo em que Joesley e Saud discutem como a PGR vê uma possível delação. Joesley argumenta não ser coincidência que após um diálogo com o procurador, uma série de movimentações é deflagrada aproximando as investigações da JBS de modo a pressionar a empresa, mas não “mexer com eles”, uma estratégia, na visão de Joesley, para incentivar a delação. Leia mais aqui.

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Beto Richa, governador do Paraná (PSDB)

Raimundo Colombo e Beto Richa
Raimundo Colombo e Beto Richa (Julio Cavalheiro/Secom/Ivan Pacheco/VEJA.com)

Saud lamenta ter que entregar governadores de Estado que receberam propina e cita o nome de Richa. Na delação firmada com a PGR, o diretor da JBS afirma ter pago 1 milhão de reais a José Richa Filho, irmão do governador, para sua campanha à reeleição em 2014. Leia mais aqui.

Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)

A presidente do STF é citada de forma superficial pelos delatores. Saud fala que a ministra é próxima da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Leia mais aqui.

Ciro Nogueira, senador (PP-PI)

É o interlocutor de gravação que Ricardo Saud se preocupa de ter perdido e que eles decidem não usar. Joesley e Saud comentam sobre trecho em que o senador, que é presidente do PP, fala sobre derrubar a Operação Lava Jato. Eles comentam que Ciro Nogueira mencionou usar o Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, indicações ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e à própria Caixa, além de ter ouvido que Marcelo Odebrecht gostaria de dar 40 milhões (a moeda não fica clara) para ele. Joesley diz que gostaria de protegê-lo ao máximo, a quem chama de “esse menino”. Leia mais aqui.

O senador Ciro Nogueira em Brasília
O senador Ciro Nogueira em Brasília (Lia de Paula/Agência Senado/VEJA)

Dilma Rousseff, ex-presidente da República (PT)

A ex-presidente é citada quando Joesley e Saud estão falando a respeito do ex-ministro José Eduardo Cardozo e da intenção de envolver ministros do STF no acordo de colaboração. Saud atribui a Dilma proximidade com ao menos dois ministros da Corte: a presidente, Cármen Lúcia, e Ricardo Lewandowski

Edson Fachin, ministro do STF

O relator da Operação Lava Jato, Edson Fachin, também é mencionado de forma superficial. A dupla de delatores admite ter imagens comprometedoras de ao menos um senador recebendo propina, mas não especificam quem. Joesley ressalta que eles “não vão precisar usar”. Na sequência, ele emenda: “Vamos fazer igual o Fachin agora. Se encontrar…” sem dizer o que isso significa. Leia mais aqui.

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Eduardo Pelella, chefe de gabinete do Procurador-Geral da República

É citado quando Joesley e Saud discutem sobre como a possibilidade de uma eventual delação da JBS é vista pela PGR. Joesley diz que ele foi um dos intermediários para que Rodrigo Janot soubesse da situação das investigações contra a JBS na Operação Greenfield. Leia mais aqui.

Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal

Joesley diz que “não tem raiva” de Fábio Cleto pelo fato de o ex-executivo da Caixa ter feito delação premiada. “O que ele disse é verdade”, comenta. Fábio Cleto revelou esquema de corrupção no Fundo de Investimento do FGTS, que teria beneficiado, entre outras empresas, a Eldorado Celulose, do grupo J&F. Leia mais aqui.

Fernanda Tórtima, advogada da JBS

Segundo o diálogo entre Joesley Batista e Ricardo Saud, a advogada Fernanda Tórtima teria “surtado” quando ele cogitou envolver ministros do STF. “Nossa, peraí, calma, o Supremo não, peraí, calma, vai f***r meus amigos”, teria dito, segundo Joesley. Leia mais aqui.

Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da JBS

Segundo um trecho do diálogo, Joesley diz que deu um prazo para que Assis e Silva tivesse relações sexuais com uma das profissionais envolvidas na negociação com o MPF. Leia mais aqui.

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Gilberto Kassab (PSD), ministro de Ciência e Tecnologia

Sem especificar a origem, ele fala de um pedido de “40 e tantos” em nome do ex-prefeito de São Paulo. E de que teria recebido uma reclamação posterior, de que “uai, Ricardo, estão faltando 7 milhões”. Leia mais aqui.

Gilmar Mendes, ministro do STF

Saud sugere a Joesley a opção de “esquecer a briga” com Gilmar Mendes, um fato que teria provocado um desentendimento entre o ministro e uma pessoa não identificada. Saud sugere esquecer e “pegar os três”, incluindo a presidente da Corte, Cármen Lúcia, e Ricardo Lewandowski, estes dois que seriam próximos da ex-presidente Dilma Rousseff. Gilmar seria um dos alvos caso desse certo o plano de acionar o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) para gravar magistrados. Leia mais aqui e aqui.

Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda (PT)

No diálogo, Joesley torce para que Guido Mantega seja preso antes que os executivos da JBS fechem o acordo de delação premiada, o que seria “melhor para nós”. O ex-ministro é acusado, na delação de Joesley, de intermediar “vantagens indevidas” aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Veja mais aqui.

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O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (Divulgação/Divulgação)

José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça (PT)

Eles relembram ter discutido a possibilidade de arrastar o ex-ministro para o acordo de delação com a PGR. Cardozo é visto como uma forma de “pegar o Supremo”. Em outro momento, em uma referência a “o cara” com quem está conversando, que pelo contexto é possível aferir ser Cardozo, diz ter influência sobre cinco ministros do STF. O ex-ministro diz que “lamenta muito todos esses fatos absurdos”. Leia mais aqui aqui

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Marcelo Miller, ex-procurador da República

É o personagem com situação mais delicada após a divulgação dos áudios. Trechos dos diálogos entre Joesley e Saud dão a entender que Miller atuou em favor da JBS quando ainda estava no MPF, órgão em que assessorou Rodrigo Janot. Ele teria se encarregado de dizer ao procurador-geral que os executivos da empresa seriam “o pessoal que vai nos dar todas as provas de que precisamos”. Depois da exoneração, o ex-procurador atuou na banca de advogados Trench, Rossi & Watanabe, que participou do fechamento do acordo de leniência da empresa de Joesley. Leia mais aqui

Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina (PSD)

Ao lado de Beto Richa, o outro governador citado por Ricardo Saud como tendo recebido propina é Colombo. No acordo de delação premiada, Saud afirma ter pago propina de 10 milhões de reais para a campanha do governador em 2014. Ele também envolve o advogado Antonio Gavazzoni, ex-secretário da Fazenda de Santa Catarina. Leia mais aqui.

Ricardo Lewandowski, ministro do STF

Saud afirma a Joesley que “o cara” com quem está falando, uma provável referência ao ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT), diz ter influência sobre cinco ministros do Supremo. O diretor da JBS disse que isso seria possível “só se eles contam o Lewandowski até hoje”. Leia mais aqui.

Rodrigo Janot, procurador-geral da República

É citado diversas vezes ao longo das quatro horas de áudio. Em um momento, Joesley descreve o que acredita ser um “jogo” para pressioná-lo a delatar, que seria articulado por Janot: cercar a JBS sem efetivamente atingi-la, para persuadi-lo das vantagens de colaborar com a Justiça. Leia mais aqui.

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Ticiana Villas-Bôas, esposa de Joesley Batista

Joesley conversa com Ricardo Saud, em tom jocoso, refletindo sobre o momento em que vai ter que contar à esposa, a jornalista e apresentadora Ticiana Villas-Bôas, as suas “traquinagens”. Leia mais aqui.

Vídeo: Janot sobre apuração da delação da JBS: ‘um dos dias mais tensos’

 

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