Jair Bolsonaro (PSL) justificou a decisão de mudar os integrantes na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos durante a ditadura militar por ser “um presidente de direita”. “O motivo é que mudou o presidente. Agora é Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final”, afirmou, ao sair do Palácio da Alvorada na manhã desta quinta-feira, 1º. O governo fez quatro mudanças na composição do órgão, inclusive trocando a presidência da comissão.
“Quando eles botavam terrorista lá, ninguém falava nada. Agora mudou o presidente. Igual mudou a questão ambiental também”, afirmou Bolsonaro. Questionado se as alterações no colegiado tinham a ver com críticas de Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, ex-presidente da comissão, às declarações que fez sobre o desaparecimento e morte de Fernando Santa Cruz, Bolsonaro afirmou que pode ser coincidência.
Em entrevista ao Radar, Eugênia Fávero, que foi substituída, classificou a decisão como uma represália. “Lamento muito porque os familiares vão perder esse mínimo espaço de apoio que eles tinham do Estado brasileiro”, disse. Ainda no comando do órgão, ela saiu em defesa do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, filho de Fernando, que foi atacado por Bolsonaro.
O governo nomeou Marco Vinicius Pereira de Carvalho para a presidência da comissão. Ele é filiado ao PSL, partido de Bolsonaro, e assessor especial da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. O deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) entra no lugar do também deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).
As outras mudanças são a entrada do coronel da reserva Wesley Maretti e Vital Lima Santos, advogado graduado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras. Eles ocupam as cadeiras de Rosa Maria Cardoso Cunha, advogada que integrou a CNV, e João Batista da Silva Fagundes, ex-deputado federal por Roraima (entre 1983-1987 e 1991-1995), ex-ministro do Superior Tribunal Militar.
As mudanças ocorrem após a comissão reconhecer que Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, morreu “em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado Brasileiro” — conforme revelado pelo blog Radar. Na última segunda-feira, ao criticar a atuação da OAB, Bolsonaro atacou o líder da entidade colocando em dúvida esta versão.
“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”, disse Bolsonaro, que depois acrescentou que Fernando teria sido vítima de um justiçamento por militantes de esquerda — o que é contrariado pelo documento. A fala gerou uma série de reações negativas, inclusive da presidente que deixa a Comissão. Felipe Santa Cruz interpelou Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal para que esclareça sua declaração.
(Com Estadão Conteúdo)