Aliados de Mandetta serão arma de bolsonaristas contra ex-ministro na CPI
Senadores querem escarafunchar contratos fechados na gestão do ex-ministro da Saúde por dois ex-deputados em busca de desvios de recursos
Na próxima terça-feira, 4, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta abrirá a temporada de depoimentos na recém-criada CPI da Pandemia. Dele senadores querem saber, por exemplo, como foi pressionado a endossar a prescrição de cloroquina para pacientes com Covid e que explicações tem a dar sobre as orientações gerais do governo, poucas semanas após a chegada do vírus ao Brasil, de que brasileiros com suspeita de infecção não deveriam procurar hospitais se não apresentassem falta de ar. Para os quatros senadores que, na CPI, compõem a tropa de choque do governo Bolsonaro, porém, o escrutínio sobre Mandetta será de outra natureza.
Sem alarde, senadores governistas dentro e fora da comissão de inquérito estão preparando requerimentos para que seja possível esmiuçar os contratos e licitações celebrados nos cerca de 15 meses da gestão do ex-ministro na Saúde em busca de desvios de recursos. Mesmo antes da pandemia, auxiliares do presidente Bolsonaro sempre suspeitaram que dois aliados de Mandetta, os ex-deputados Abelardo Lupion e José Carlos Aleluia, seriam a chave para tentar desmoralizar o ex-aliado e destruir as pretensões eleitorais do ex-ministro.
Conforme revelou VEJA, um grupo integrado por espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e militares do Exército procuraram, em meados do ano passado, supostas provas de irregularidades no Ministério da Saúde. Os alvos da investigação também eram Lupion e Aleluia, amigos de Mandetta, e responsáveis por centralizar, mesmo que informalmente, grandes compras da pasta. Com poder para quebrar sigilos fiscais, bancários e telefônicos e acessar documentos confidenciais, parlamentar querem escarafunchar qualquer documento que tenha tido as digitais dos dois ex-deputados. Pré-candidato à Presidência da República, Mandetta alocou ambos na Saúde, um como assessor especial e outro como responsável pela área de contratos.
Procurado, o ex-ministro disse a VEJA que não iria comentar a ofensiva de bolsonaristas na CPI. “Que a CPI sirva para preparar o país para enfrentamentos futuros”, afirmou.