Antes da prisão, Pastor Everaldo tentou obstruir investigação, diz delação
O presidente do PSC, partido do governador Wilson Witzel, procurou Edmar Santos para “alinhar discurso” para justificar atos ilícitos
Apontado como o líder de um dos grupos criminosos que integram o governo de Wilson Witzel, o pastor Everaldo Dias Pereira, conhecido como Pastor Everaldo, tentou obstruir as investigações após a deflagração de operações da Polícia Federal que apuravam os desvios de verba da secretaria estadual Saúde. A acusação consta no documento de delação premiada do ex-secretário da pasta, Edmar Santos, preso em julho deste ano.
O presidente do Partido Social Cristão (PSC), que elegeu o ex-juiz como chefe do estado do Rio de Janeiro em 2018, assim como seus filhos Filipe Pereira e Laércio Pereira, foi alvo da Operação Tris in Idem desta sexta, 28. Segundo a delação de Edmar, o pastor Everaldo o procurou para tentar “alinhar discurso” e criar uma versão que justificasse os atos ilícitos práticos pela organização.
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Clique e AssineEm depoimento, o ex-secretário disse que, entre os dias 19 e 20 de maio de 2020, foi chamado ao PSC, onde estavam o pastor e seu operador financeiro, Victor Hugo Amaral Cavalcanti Barroso, e que a dupla tinha receio de uma possível delação premiada do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves. Na ocasião, Edmar foi informado sobre a necessidade de combinar o conteúdo dos depoimentos para que todos tivessem um álibi.
O ex-secretário disse ainda o Pastor Everaldo contou ter sido chamado na véspera ao Palácio Laranjeiras, onde o governador Witzel teria lhe entregue 15 mil reais porque o ex-juiz também estava preocupado com possíveis buscas e apreensões em sua residência oficial. Ainda de acordo com Edmar, o operador financeiro Victor Hugo teria uma estratégia para monitorar Neves e evitar que ele contasse à polícia sobre os esquemas. Além de custear os gastos com o advogado de Neves, o grupo também seria responsável por quitar as despesas pessoais do ex-subsecretário e de sua família fora da cadeia.
O documento do Ministério Público Federal, ao qual VEJA teve acesos, mostra que, além da Saúde, o grupo do Pastor Everaldo tem forte influência na Cedae e no Detran. Segundo as investigações, o presidente do PSC criou uma típica estrutura ramificada de organização criminosa, com divisão de tarefas entre os demais integrantes do grupo. De acordo com Edmar, os contratos e liberações de pagamentos na pasta da Saúde é uma das principais fontes de arrecadação de vantagens indevidas no governo de Witzel.
O relatório chama a atenção de que Pastor Everaldo comanda, “como se proprietário fosse”, alguns setores da administração pública e que, na área da saúde, instituiu um esquema de “caixinha” para pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos da organização criminosa, principalmente através do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um “pedágio” sobre a destinação de restos a pagar aos fornecedores.