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Antes da prisão, Pastor Everaldo tentou obstruir investigação, diz delação

O presidente do PSC, partido do governador Wilson Witzel, procurou Edmar Santos para “alinhar discurso” para justificar atos ilícitos

Por Jana Sampaio, Cássio Bruno, Marina Lang, Ricardo Ferraz, Sofia Cerqueira
Atualizado em 28 ago 2020, 18h02 - Publicado em 28 ago 2020, 17h46

Apontado como o líder de um dos grupos criminosos que integram o governo de Wilson Witzel, o pastor Everaldo Dias Pereira, conhecido como Pastor Everaldo, tentou obstruir as investigações após a deflagração de operações da Polícia Federal que apuravam os desvios de verba da secretaria estadual Saúde. A acusação consta no documento de delação premiada do ex-secretário da pasta, Edmar Santos, preso em julho deste ano.

O presidente do Partido Social Cristão (PSC), que elegeu o ex-juiz como chefe do estado do Rio de Janeiro em 2018, assim como seus filhos Filipe Pereira e Laércio Pereira, foi alvo da Operação Tris in Idem desta sexta, 28. Segundo a delação de Edmar, o pastor Everaldo o procurou para tentar “alinhar discurso” e criar uma versão que justificasse os atos ilícitos práticos pela organização.

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Em depoimento, o ex-secretário disse que, entre os dias 19 e 20 de maio de 2020, foi chamado ao PSC, onde estavam o pastor e seu operador financeiro, Victor Hugo Amaral Cavalcanti Barroso, e que a dupla tinha receio de uma possível delação premiada do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves. Na ocasião, Edmar foi informado sobre a necessidade de combinar o conteúdo dos depoimentos para que todos tivessem um álibi.

O ex-secretário disse ainda o Pastor Everaldo contou ter sido chamado na véspera ao Palácio Laranjeiras, onde o governador Witzel teria lhe entregue 15 mil reais porque o ex-juiz também estava preocupado com possíveis buscas e apreensões em sua residência oficial. Ainda de acordo com Edmar, o operador financeiro Victor Hugo teria uma estratégia para monitorar Neves e evitar que ele contasse à polícia sobre os esquemas. Além de custear os gastos com o advogado de Neves, o grupo também seria responsável por quitar as despesas pessoais do ex-subsecretário e de sua família fora da cadeia.

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O documento do Ministério Público Federal, ao qual VEJA teve acesos, mostra que, além da Saúde, o grupo do Pastor Everaldo tem forte influência na Cedae e no Detran. Segundo as investigações, o presidente do PSC criou uma típica estrutura ramificada de organização criminosa, com divisão de tarefas entre os demais integrantes do grupo. De acordo com Edmar, os contratos e liberações de pagamentos na pasta da Saúde é uma das principais fontes de arrecadação de vantagens indevidas no governo de Witzel.

O relatório chama a atenção de que Pastor Everaldo comanda, “como se proprietário fosse”, alguns setores da administração pública e que, na área da saúde, instituiu um esquema de “caixinha” para pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos da organização criminosa, principalmente através do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um “pedágio” sobre a destinação de restos a pagar aos fornecedores.

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