Deputado de primeiro mandato e bolsonarista de proa, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) avalia antecipar o fim melancólico da CPI do MST, do qual é relator, e admite que as investigações sobre a atuação e as ligações políticas do movimento dos trabalhadores rurais sem terra podem ser finalizadas já na próxima semana, quando o colegiado colherá o depoimento do principal líder do MST, João Pedro Stédile.
Originalmente a comissão de inquérito encerraria os trabalhos apenas no dia 18 de setembro, mas na última semana o presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL) utilizou uma artimanha regimental para reverter a convocação do chefe da Casa Civil Rui Costa, e partidos do Centrão trocaram, dentro da CPI, deputados oposicionistas por representantes simpáticos ao governo Lula.
Na prática, a nova correlação de forças enterra as chances de aprovação de requerimentos sensíveis, como a convocação de novos ministros, e devem levar para o arquivo quaisquer diligências que em tese pudessem vincular integrantes do governo Lula com invasões de terras particulares e produtivas. “Não vamos marcar nenhuma sessão deliberativa. O que já aprovou, aprovou, o que não aprovou não aprova mais, para não corrermos o risco de eles fazerem questões de ordem e aprovarem coisas que a gente não concorda”, disse Salles a VEJA. “Depois do Stédile, se não tiver depoimentos que justifiquem a continuidade da CPI, a gente faz o relatório, entrega e acabou”, afirmou.
Agora no flanco da minoria dentro da comissão de inquérito, o relator antevê que mesmo seu parecer final dificilmente será endossado como conclusão oficial da CPI. “Se for reprovado, paciência”, afirma. A CPI ouviu mulheres assentadas na reforma agrária que se disseram vítimas de violência de militantes e coordenadores do MST e colheu o depoimento do líder da Frente Nacional de Lutas José Rainha Junior, investigado por suspeitas de extorquir fazendeiros e endossar conflitos armados pela posse de terras.