O Itamaraty cancelou nesta semana o serviço diário de clipping que reunia reportagens publicadas por veículos de imprensa estrangeiros sobre o Brasil. A decisão foi tomada pelo chanceler Ernesto Araújo após um aumento nas críticas ao presidente Jair Bolsonaro ser registrado na mídia internacional.
Nos últimos dias, até jornais de linha editorial conservadora passaram a criticar a negligência do presidente no combate à pandemia de Covid-19. O jornal britânico Financial Times, tido como a bíblia do mercado financeiro, afirmou que o “populismo de Bolsonaro está levando o país ao desastre”. Outro jornal britânico, o The Daily Telegraph, chamou Bolsonaro de “o homem que quebrou o Brasil”.
Em resposta às críticas, Bolsonaro afirmou que “a imprensa mundial é de esquerda” e que o presidente americano Donald Trump “sofre muito nos Estados Unidos também”.
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Clique e AssineAraújo já havia interrompido o clipping de reportagens da imprensa nacional. Por ordem do chanceler, o serviço deixou de ser atualizado no dia 4 de março, quando foi divulgado o crescimento tímido de 1,1% do PIB no primeiro ano do governo Bolsonaro.
Os clippings eram feitos pela assessoria de imprensa do Itamaraty e podiam ser acessados pelos funcionários que possuem acesso à rede interna do Ministério das Relações Exteriores. Eles também eram enviados para os embaixadores que estão no exterior e não conseguem conciliar o trabalho com a leitura diária de diferentes jornais e revistas.
Na época do cancelamento do clipping nacional, o Itamaraty informou que estava reavaliando a efetividade do serviço. Dessa vez, o Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota dizendo que “o serviço de clipping de notícias nacionais e estrangeiras foi descontinuado, por desnecessário, tendo em conta a extrema facilidade de acesso a todos os veículos de comunicação, em especial, por meio da internet”.
A reportagem de capa da edição desta semana de VEJA mostra como o descontrole da pandemia, os arroubos autoritários de Bolsonaro e o caos institucional provocaram a maior crise de imagem do Brasil desde o período da ditadura militar. A reputação ruim no exterior já trouxe problemas de ordem econômica, como a fuga do capital estrangeiro, a diminuição de investimentos e a desvalorização de aproximadamente 30% do Real em relação ao Dólar só neste ano.