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Após escândalos recentes, Witzel e outros investigados estão em campanha

Ex-condenados e ex-processados concorrerem com a cara de pau de quem ostenta reputação impoluta é esperado - mas políticos têm elevado a falta de noção

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 4 jun 2024, 12h15 - Publicado em 9 set 2022, 06h00
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  • A estrutura mambembe nem de longe lembra os tempos faustos do Palácio Guanabara, mas o ex-governador Wilson Witzel tem aspirações ambiciosas: é novamente candidato ao cargo do qual foi defenestrado há dois anos, em um processo que culminou em impeachment. Imbuído do propósito de reaver o poder, na tarde de uma sexta-feira abafada o ex-juiz federal, cabeça de chapa do nanico Partido da Mulher Brasileira (PMB), percorria o calçadão de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, cercado por pessoas gritando frases decoradas de apoio, arregimentadas em troca de cerca de 30 reais. No percurso, distribuía sorrisos, posava para selfies e ouvia toda e qualquer reivindicação com interesse, enquanto a ex-primeira-dama Helena Witzel — também candidata, neste caso a uma vaga na Câmara Federal — registrava tudo no celular.

    Ex-condenados e ex-processados concorrerem com a cara de pau de quem ostenta reputação impoluta é normal e até esperado na política nacional. Mas o casal Witzel faz parte de um grupinho que elevou a falta de noção a seu ápice: os dois nem esperaram a poeira do escândalo baixar para entrar na corrida outra vez. O ex-governador foi destituído do cargo em 2020 em meio à revelação de um esquema milionário de corrupção na área da saúde durante a pandemia, teve seu afastamento confirmado por crime de responsabilidade na gestão de contratos públicos e está no centro de um processo criminal que será julgado pela Justiça Federal.

    Nesse retorno, ele bateu à porta de várias legendas, sem sucesso, até ser acolhido pelo PMB. “No termômetro da rua, de dez pessoas, só uma é desfavorável a ele”, contabiliza, à sua moda, Suêd Haidar, presidente da legenda que o recebeu. Constrangimento com tudo isso? Nem um pingo. “Fui perseguido, traído e sofri um golpe de Estado. Me arrancaram do governo não por corrupção, mas por combatê-­la”, afirma, impávido. Um tribunal misto o declarou inelegível por cinco anos, em abril do ano passado, e sua candidatura é alvo de uma ação de impugnação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), sentença da qual pretende recorrer e por enquanto continua no jogo. Por essa razão, os mais chegados comentam que, na verdade, seu grande objetivo é emplacar a mulher no Congresso e a sogra na Assembleia Legislativa.

    DA CADEIA AO PALANQUE - Pastor Everaldo: solto em 2021, conta com as famílias dos colegas de prisão para se eleger -
    DA CADEIA AO PALANQUE - Pastor Everaldo: solto em 2021, conta com as famílias dos colegas de prisão para se eleger – (@PastorEveraldo20/Facebook)

    Parceira na alegria e na tristeza, a ex-primeira-dama Helena Witzel foi também investigada por suspeita de ter usado seu escritório de advocacia para receber propinas para o marido, mas não houve indiciamento. Faz igualmente parte do clã, sem passagem pela polícia, a sogra do ex-juiz, Arlete Jenkins, concorrendo a deputada estadual. “O que move nós três são o idealismo e a indignação de ver o dinheiro público ser maltratado, jogado no lixo”, pontifica o ex-governador.

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    Além de Witzel, outro envolvido no escândalo da saúde ansioso por voltar à vida pública é Everaldo Dias Pereira, o Pastor Everaldo (PSC), influente líder evangélico que passou quase um ano atrás das grades, acusado de ser um dos cabeças do esquema que teria desviado pelo menos 50 milhões de reais — foi solto em julho de 2021, mas passou vários meses de tornozeleira e impedido de pisar no partido. O pastor é candidato a deputado federal. Seu filho Filipe Pereira, ex-assessor especial do governador igualmente preso em 2020 e liberado dias depois, almeja a Assembleia Legislativa fluminense. “Embora isso venha mudando gradativamente, muitos candidatos ainda tratam o eleitor como se fosse facilmente manipulável, sem perspectiva crítica ou de uma análise na hora de voltar”, observa Arthur Ituassu, professor de comunicação política da PUC-Rio.

    Afastados nesta campanha, Witzel e Pastor Everaldo, o principal fiador de sua candidatura em 2018, seguem caminhos distintos. Enquanto o pastor se concentra em reuniões com líderes comunitários das zonas Norte e Oeste da capital, o ex-governador tem gastado a sola do sapato (social preto) nos rincões do estado — sai de casa, em carro alugado, antes das 7 horas e só volta tarde da noite. Na mais recente pesquisa do Ipec, aparecia com 2% das intenções de voto. Ele levanta a bandeira de único candidato a governador verdadeiramente de direita e apoia a reeleição de Bolsonaro, relevando acusações anteriores. “Temos de pôr as desavenças pessoais abaixo dos interesses nacionais”, afirma. Também apoiador de Bolsonaro, Pastor Everaldo põe fé nos votos dos fiéis e de familiares de detentos com quem compartilhou o pão atrás das grades. No Rio, os Witzel e Everaldos trilham a conexão direta entre alvo da Justiça e candidato, sem nem dar tempo de a poeira das denúncias de corrupção baixar.

    Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806

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