Azul se explica à CPI após presença de Bolsonaro em voo – e culpa piloto
Companhia aérea disse que o comandante do voo é o responsável por qualquer episódio que ocorra durante o voo e afirmou ter punido a ele e à copiloto
A companhia aérea Azul encaminhou à CPI da Pandemia documento sigiloso em que tenta se explicar a aparição do presidente Jair Bolsonaro em um voo da empresa, no dia 11 de junho, em Vitória (ES). Na ocasião, o presidente retirou por alguns instantes a máscara facial, desrespeitando uma das mais básicas regras sanitárias da pandemia, tirou fotos com a tripulação e com passageiros e ironizou eleitores que pretendem votar no ex-presidente Lula e que não o querem ver reeleito em 2022. “Vocês estão bem hoje, hein? Quem fala ‘Fora Bolsonaro’ devia estar viajando de jegue, não de avião. É ou não é? Para ser solidário ao candidato deles”, disse o ex-capitão.
No ofício à CPI, ao qual VEJA teve acesso, a empresa recusou-se a responder em detalhes que medidas tomou contra o fato de o presidente ter retirado a máscara para posar para fotografias, disse que respeita normas de segurança estabelecidas para evitar a propagação do vírus – apesar de Bolsonaro ter feito um breve discurso sem o equipamento de proteção facial – e culpou o comandante do voo pelo episódio. “Nota-se que o comandante da aeronave estava fazendo uso da máscara facial de forma adequada, uma vez que estava ciente de sua obrigatoriedade, contudo, diante da presença atípica e inesperada do presidente da República, deixou de conter o ímpeto de manter-se com a máscara no local adequado, no momento em que tirou uma foto”, relatou a empresa, que disse ter sido “surpreendida” e em nenhum momento consultada previamente para uma eventual anuência à presença de Bolsonaro.
“A Azul informa que o comandante da aeronave do voo em comento foi quem concordou com a entrada inesperada do Presidente da República, o qual adentrou à aeronave apenas acompanhado de seu segurança e lá permaneceu por aproximadamente dois minutos. (…) O comandante da aeronave possui legitimidade e competência para tal autorização, responsabilizando-se pelos seus atos e decisões”, explicou. A companhia disse ter aplicado “medidas disciplinares cabíveis” a ao piloto e ao copiloto, mas não as detalhou aos senadores. A Azul também pediu expressamente que suas respostas à CPI não viessem a público.
“Nota-se, pelo vídeo veiculado na mídia, que o presidente da República adentrou a aeronave fazendo uso correto da máscara e permaneceu na maior parte da visita utilizando-a corretamente, mas em um momento a retirou, o que durou um total de sete segundos, voltando a colocá-la logo na sequência, ocasião em que a tripulação estava pronta para orientá-lo acerca de sua correta utilização, caso o evento tivesse se estendido por tempo maior, conforme procedimento padrão em todos os voos”, relatou a empresa.
Em pelo menos três trechos de suas explicações a aérea tentou minimizar sua responsabilidade pela súbita presença de Bolsonaro. Primeiro, disse que o presidente permaneceu tão pouco tempo sem máscara que o episódio seria equivalente a um passageiro idoso que, por poucos segundos, retira o equipamento de proteção para tomar água. Depois, afirmou que caberia ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança presidencial, dar instruções sobre o procedimento que deveria ter sido adotado. Por fim, disse que, apesar de o presidente não ser passageiro do voo, ele já havia passado pelos procedimentos de inspeção e controle de segurança e permaneceu na aeronave quando ela estava com portas abertas.