Os militantes bolsonaristas que já vinham atacando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), nas redes sociais subiram o tom na madrugada desta sexta-feira, 27. Foram enviadas mensagens, inclusive com ameaças de morte, para o celular pessoal do tucano, que se tornou o principal antagonista à política do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento do novo coronavírus. Faixas ofensivas ao governador também foram colocadas nas ruas da capital paulista. Antes, o movimento se limitava a inundar os perfis de Doria com xingamentos e postagens que exigem o seu impeachment.
O tom das mensagens fez o tucano registrar um boletim de ocorrência na polícia e reforçar a sua segurança. Além de ameaças de morte contra o governador e a sua família, os perfis manifestavam a intenção de pichar e invadir a casa do tucano. Essa convocação também foi divulgada na internet com o endereço da residência de Doria.
A Polícia Civil irá investigar a origem dos ataques a partir de agora. Auxiliadores do governador afirmam que o seu número de celular foi divulgado para uma rede de perfis bolsonaristas a mando de funcionários do governo federal que têm ligações com o chamado “gabinete do ódio”. Localizada no terceiro andar do Palácio do Planalto, a sala abriga assessores de Bolsonaro que monitoram sua popularidade em redes sociais e gerenciam perfis destinados a atacar os críticos. O gabinete é comandado informalmente pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que viajou para Brasília nesta semana e tem participado de reuniões com a alta cúpula do governo federal.
Por precaução, a polícia montou um bloqueio em frente à casa de Doria para evitar a aproximação de qualquer suspeito ao longo da noite. O esquema de segurança já foi desfeito e o governador irá manter sua agenda de trabalho sem alterações.
Um levantamento obtido pelo site de VEJA revelou na quinta-feira, 26. que a campanha online pelo impeachment de Doria foi alimentada em grande parte com robôs. Entre os perfis analisados há contas que postaram a mesma mensagem contra o governador 354 vezes em menos de dois dias, o que contabiliza quase 16 publicações por hora.
Doria entrou na mira das milícias digitais após o bate-boca que teve com Bolsonaro na quarta-feira, 24. Em reunião por videoconferência, o tucano disse que repudiava o pronunciamento em que o presidente ataou a imprensa e as medidas protetivas que foram adotadas por governadores para conter a pandemia do coronavírus. Bolsonaro retrucou, afirmando que o tucano “apoderou-se” do seu nome para se eleger governador e que depois “virou as costas” e começou a atacá-lo “covardemente”.
Os filhos de Bolsonaro intensificaram a atividade no campo digital desde o pronunciamento de Bolsonaro. A postura agressiva nas redes sociais é importante para manter mobilizada a base mais fiel ao presidente, sobretudo no momento em que estudos apontam que há um crescente isolamento dos bolsonaristas mais radicais na internet. Após o pronunciamento de Bolsonaro, o Laboratório de Democracia Digital da FGV identificou pela primeira vez uma união entre grupos de usuários considerados de “esquerda” com aqueles “não alinhados” a nenhum espectro ideológico. As manifestações, no caso, eram em repúdio ao discurso de Bolsonaro, cuja base teve participação de 6% a 8% num debate formado por 6 milhões de postagens no Twitter.