Em posse de Regina Duarte, Bolsonaro avisa que pode vetar nomes na Cultura
Ao ouvir cobrança da secretária por "porteira fechada e carta branca", presidente diz que tem poder de influenciar nas escolhas para proteger o governo
A atriz Regina Duarte ouviu um alerta do presidente Jair Bolsonaro ao tomar posse nesta quarta-feira, 04, como secretária da Cultura. Regina fez um discurso pregando diálogo e pacificação. E lembrou a Bolsonaro que o convite que a levou ao governo falava em porteira fechada e carta branca. “Não vou esquecer, não, presidente”, disse ela. A resposta veio logo na sequência. O presidente ressaltou que tem poder de veto sobre as indicações de todos os ministros e secretários do governo para que seja mantida a sua autoridade na administração federal.
“Todos os meus ministros receberam os seus ministérios de porteira fechada. Eles têm liberdade para escolher seu time. Obviamente, em alguns momentos, eu exerço o poder de veto em alguns nomes. Já o fiz em todos os ministérios, até para proteger a autoridade, que por vezes desconhece algo que chega ao nosso conhecimento. Isso não é perseguir ninguém. É colocar os ministérios e as secretarias na direção que foi tomada pelo chefe do Executivo e que foi acolhida naquele longo tempo de pré-campanha”, declarou Bolsonaro.
O presidente, em seguida, afirmou que a secretária irá passar por um momento probatório. “A verdade tem que estar presente em todos os momentos da nossa vida. E por muitas vezes ela dói. Já falei que você merece mais do que isso. Você vai passar por um momento probatório. Eu tenho certeza que você vencerá esse momento pelo seu passado, pela sua alegria e por sua sinceridade. Você não está vendo um brucutu na sua frente, você tem aqui um amigo”, afirmou.
Regina Duarte já se tornou alvo da ala mais ideológica do governo Bolsonaro. Ela demitiu seis funcionários do alto escalão da secretaria que se identificam com o escritor Olavo de Carvalho. Entre eles estão o maestro terraplanista Dante Mantovani, que chefiava a Funarte, e o cantor lírico Camilo Calandreli, que trabalhava como secretário de Fomento e Incentivo à Cultura.
No total, Regina Duarte promoveu doze demissões na pasta. O expurgo provocou a ira de Olavo e de seus seguidores. O polemista escreveu em seu Facebook que apoiar a indicação da artista “parece ter sido uma cagada minha, mais uma entre tantas”. Outros bolsonaristas, no entanto, saíram em defesa da nova secretária. A deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) cobrou respeito à atriz. “Desse jeito, quem vai derrubar o presidente é a turma que diz que o apoia. A burrice é tanta que parece má-fé”, postou ela no Twitter.
Antes da posse, Regina Duarte já havia exonerado a secretária-adjunta interina, Jane Silva. A reverenda irritou Regina ao tomar decisões na pasta sem consultá-la. Nas redes sociais, Jane Silva tem se dedicado a espalhar críticas sobre Humberto Braga, ex-presidente da Funarte no governo de Michel Temer e um dos nomes certos na composição da equipe da artista. Braga é acusado pelos bolsonaristas de ser muito progressista para ocupar um cargo na secretaria.
Regina Duarte é a quarta secretária da Cultura no governo Bolsonaro. Ela substitui o dramaturgo Roberto Alvim, que foi demitido após ter copiado um discurso do nazista Joseph Goebbels, ministro da propaganda do ditador Adolf Hitler, para anunciar a criação de um prêmio para as artes. Alvim ficou pouco mais de dois meses no cargo.
Afago ao Congresso
Em seu discurso de posse, Regina Duarte afirmou que assumiu uma missão de pacificar a relação do setor cultural com o governo. “Meu propósito é a pacificação e o diálogo permanente com o setor cultural, com os estados, com os municípios, com o parlamento e com os órgãos de controle.”
A nova secretária fez um afago ao Congresso, cuja relação com Bolsonaro piorou desde que o presidente compartilhou um vídeo em que conclamava a população a ir para as ruas contra os parlamentares. “O apoio do Legislativo é indispensável para que se tornem reais os objetivos da tarefa que vamos iniciar juntos a partir de hoje”, afirmou.
Regina Duarte disse acreditar que se pode “fazer muita cultura com os recursos que temos”, mas manifestou o interesse de procurar novos financiamentos para o setor. “Na busca por uma beleza maior, vamos passar o chapéu”, afirmou. Ela também declarou que irá “repartir com equilíbrio as fatias do fomento para que todas as regiões do país possam ter viabilizadas e expostas as suas produções”.
Em sua fala, Bolsonaro desferiu novo ataque contra o setor cultural ao dizer que a produção artística do país foi “cooptada pela política” no passado. Como solução, ele classificou Regina Duarte como a pessoa certa para “valorizar a Lei Rouanet, tão mal utilizada no passado”. A secretária aplaudiu efusivamente essa parte do discurso do presidente.