“Uma bomba devastadora para a Polícia Federal, para o governo e para o país”. Foi dessa forma que um delegado da PF, diretamente ligado à Operação Lava-Jato, avaliou o discurso de demissão do agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
“A saída do Moro apenas confirmou o que suspeitávamos há algum tempo: o presidente quer governar com seus filhos e seus amigos. Essa história de que ele quer ‘o bem do Brasil’ é conversa mole”, afirmou outro policial federal, que se define como “eleitor de Bolsonaro, sim, mas muito mais admirador de Sergio Moro“. Segundo ele, a saída de Moro e, principalmente, a maneira como ele está saindo será um grande baque para a corporação. “A pergunta que fica é: por que o presidente quer ter um diretor-geral que fale diretamente com ele?”, indagou o policial.
O ex-juiz da Lava Jato e símbolo de combate à corrupção no país, fez um pronunciamento de cerca de 45 minutos, em que afirmou que está deixando o ministério por causa das tentativas do presidente Jair Bolsonaro interferir no trabalho da PF.
Segundo Moro, o presidente lhe afirmou que pretendia ter no comando da corporação “uma pessoa de seu contato”, a quem pudesse telefonar para pedir informações, relatórios de inteligência. Esse tipo de “contato” é considerado um pecado capital entre os policiais federais, já que as investigações, especialmente de corrupção e crime organizado, dependem de total sigilo.
Como exemplo da gravidade do pedido de Bolsonaro, Moro mencionou que seria impensável que a ex-presidente Dilma Rousseff ligasse para o diretor ou um superintendente da PF para pedir informações durante as investigações da operação Lava Jato (iniciada em março de 2014, e que expôs as vísceras da corrupção montada durante as administrações petistas, o que pavimentou o impeachment de Dilma).
Intenção de crimes graves
Para Jorge Pontes, também delegado da PF, as revelações feitas por Moro são gravíssimas. “O que o doutor Sergio (Moro) ouviu do presidente pode ter sido a intenção do cometimento de crimes graves”, afirmou o policial que também é diretor de Ensino e Pesquisa da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça. “O presidente estaria querendo um diretor e superintendentes que encaminhem informes para ele! Estaria, ainda, querendo influir na condução de inquéritos ‘em curso’ no STF! Isso seria corromper institucionalmente a Polícia Judiciária da União”, finalizou.
O episódio deve reacender a luta pela autonomia da Polícia Federal. “As declarações do ministro da Justiça Sergio Moro revelam fatos gravíssimos, que devem ser apurados com o rigor e celeridade necessários. É preciso dotar a Polícia Federal de autonomia na Constituição para impedir ingerências como as que estão ocorrendo”, escreveu em nota, a delegada Tânia Prado, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo.
O desembarque de Moro do ministério deve provocar a saída em massa de quadros que participaram da Lava Jato e que foram para o governo a convite do ex-juiz. Entre eles, está o delegado Igor Romário, titular da diretoria de Combate ao Crime Organizado, e Érika Marena, chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (este último, responsável por investigações em parceria com autoridades estrangeiras e por repatriar fortunas mantidas no exterior por corruptos, como as de ex-diretores da Petrobras).
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