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Cabral induziu doação de ‘cinema particular’ a cadeia, diz pastor

Segundo Carlos Serejo, ex-governador disse que assinatura de religiosos ou instituições filantrópicas 'legitimaria' uso de equipamento no presídio

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h19 - Publicado em 3 nov 2017, 17h50

O pastor Carlos Serejo, responsável pela doação de um “cinema particular” à cadeia José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde está preso o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), declarou nesta sexta-feira que foi induzido por Cabral a assinar o documento. A doação de um home theater, uma TV de LED de 65 polegadas, um aparelho de Blu-ray e 160 CDs com filmes havia sido feita em nome da Igreja Batista do Méier, à qual Cerejo pertence, e da Comunidade Cristã Novo Dia. As duas instituições negaram ter doado o equipamento, avaliado em cerca de 23.000 reais.

Conforme nota publicada pelo advogado Heckel Garcez, que defende Serejo, Sérgio Cabral chamou o pastor e a missionária Clotildes de Moraes à biblioteca da cadeia, na tarde da sexta-feira da semana passada, enquanto um culto acontecia na prisão. No encontro, Cabral teria dito a ambos que era necessário que representantes de alguma instituição religiosa ou filantrópica assinassem a doação dos eletrônicos, que já estavam no presídio, “a fim de legitimar o uso destes pelos presos”.

“Segundo a fala de Sérgio Cabral, o diretor da entidade prisional teria alegado que o uso de todos os equipamentos só poderia ser oficializado caso houvesse o documento de doação”, diz o texto da defesa do pastor. “O preso solicitou ajuda e falou que era só assinar o papel, e esse favor foi feito”, completa Garcez, que afirma que o religioso agiu com “extrema boa fé e no claro intento de ajudar o próximo”.

A nota também classifica Cabral como “um homem ardiloso” e diz que o pastor foi “enganado”, “usado” e “manipulado” pelo peemedebista, preso desde novembro de 2016 na Operação Lava Jato e já condenado a 72 anos de prisão em três processos.

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“É fato que o Sr. Carlos Serejo e os outros agentes religiosos foram induzidos (enganados) a cometer o equívoco de assinar a doação (se é que tal documento possui validade para tanto, posto que somente a presidência e a diretoria das instituições têm legitimidade para isso), sendo usados e manipulados por um homem ardiloso cuja vida traduz a sua astúcia e o poder de manobra para conseguir o que almeja”, ataca o defensor.

Além de Serejo, figuram como signatários do documento que oficializa a doação a missionária Clotildes e o pastor Cesar Dias de Carvalho. Ainda segundo o texto do advogado Heckel Garcez, os religiosos pretendiam “colaborar com a ressocialização dos presos” e não “beneficiar exclusivamente o preso Sérgio Cabral”.

Por meio de um vídeo publicado no Facebook, o pastor João Reinaldo Purin Jr., presidente da Igreja Batista do Méier, ressaltou que os pastores envolvidos no episódio foram suspensos por tempo indeterminado. Ele reafirma que as doações não foram feitas pela instituição e que seus subalternos, ao assinarem a doação, “ultrapassaram suas atribuições e limites”.

Diante da repercussão da notícia da doação, a Secretaria de Administração Penitenciária do Rio (Seap) suspendeu a instalação de cinemateca, que foi doada ao orfanato Casa do Menor São Miguel Arcanjo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Por meio de nota,  a Seap declarou que “recebe sempre doações de entidades religiosas cadastradas previamente”. “Tais doações somente são recebidas mediante termo de doação assinado pelos doadores e com as referidas notas fiscais dos produtos doados”.

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