O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, se encaminhava para o trabalho quando recebeu na manhã desta quarta-feira, 6, um convite do presidente Jair Bolsonaro para participar da reunião que havia sido marcada com a secretária da Cultura, Regina Duarte, no Palácio do Planalto. Em sinal de prestígio, Camargo sentou ao lado do presidente e acompanhou em silêncio toda a exposição de Regina sobre as medidas que ela deseja implementar à frente da pasta. A presença dele no encontro colocou de vez fogo nas conversas de bastidores de que Camargo pode sucedê-la no cargo. Em entrevista a VEJA, ele admitiu que a situação da atriz é “delicada” e que ela ficou surpresa com a sua presença na reunião. “Eu me senti prestigiado. Pertenço a um órgão vinculado à Secretaria da Cultura e não teria que estar na reunião necessariamente. A própria Regina disse que ficou surpresa com a minha chegada”, disse Camargo. “Todo mundo sabe que a situação dela é delicada, mas nada disso passa por mim.”
Também estiveram na reunião assessores de Regina Duarte e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, a quem a pasta da Cultura está subordinada. Camargo afirmou que a apresentação da atriz foi uma “prestação de contas” e disse que teve uma conversa cordial com ela. “Falamos sobre nossa experiência de gestão e a respeito do aprendizado que estamos tendo, já que nenhum dos dois era do serviço público”, disse Camargo. O presidente da Fundação Palmares ainda foi apresentado ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que chegou à reunião com ela já começada. “Ele me defende nas redes sociais. Foi legal poder conversar com ele pessoalmente.”
Camargo passou a ser cotado como um dos prováveis substitutos de Regina Duarte caso a atriz resolva pedir demissão da Secretaria da Cultura. Além da simpatia de Bolsonaro, o presidente da Fundação Palmares conta com o apoio de Geralda Gonçalves. Uma bolsonarista radicada nos EUA há mais de duas décadas, Geigê, como é conhecida, tem influência no Ministério do Turismo e vem articulando para que Regina perca o cargo. Geigê é próxima à família presidencial e foi responsável por indicar o antecessor da atriz, Roberto Alvim.
Apesar das evidências, Camargo jura que a influência de Geigê no ministério é “uma peça de ficção”. Ele também afirma que nunca discutiu a sucessão de Regina com Bolsonaro. “O que aconteceu hoje foi uma vontade do presidente de me prestigiar junto à secretária e aos seus assessores mais próximos. Por isso ele quis que eu participasse do encontro. Não tenho participação em conversas ou negociações relacionadas à permanência ou não da secretária no cargo”, diz.
Regina tentou demitir Camargo logo que assumiu a secretaria, mas foi desautorizada por Bolsonaro. Após tomar posse, a atriz disse ao programa Fantástico, da TV Globo, que a permanência de Camargo era um “problema” e que ele era um “ativista, mais que um gestor público”. Entre outras opiniões polêmicas, Camargo defendeu o fim do Dia da Consciência Negra e declarou que a escravidão “foi benéfica para os descendentes” de negros. Com base nessas declarações, a Justiça chegou a suspender a nomeação dele para a Fundação Palmares, mas a Advocacia Geral da União (AGU) derrubou o veto. Camargo retrucou nas redes sociais as críticas de Regina Duarte e, em em postagens mais recentes, afirmou de forma indireta que a atriz estava nomeando “esquerdistas” para a pasta. Ele ainda respondeu a uma seguidora que, até o momento, Regina só havia flexibilizado as prestações de contas da Lei Rouanet para beneficiar “a sórdida classe artística”.