Castro, o vice invisível que assumiu governo do Rio, está de olho em 2022
Ele agora dá festas, promove encontros regados a vinho e cultiva alianças
Quando chegou ao Palácio Guanabara, em agosto do ano passado, depois que o Superior Tribunal de Justiça afastou o governador Wilson Witzel por suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção na área da saúde, o vice Cláudio Castro parecia um peixe fora d’água, buscando aliados por toda parte e tomando cuidado com o que dizia e fazia. Passados oito meses, o governador em exercício dá sinais de estar se aclimatando bem ao cargo, sobretudo ao seu lado mais glamouroso: comparece e eventualmente organiza confraternizações com parceiros, assessores e a turma que vive a orbitar gabinetes e não poupa elogios a sua brevíssima gestão em conversas privadas. Quando surge a chance, aproveita para angariar simpatias por uma candidatura própria ao governo fluminense em 2022.
O apego à agenda social da governança, que se imaginaria deletada pela pandemia, veio à tona no começo de abril, exatos dois dias depois de Castro baixar decretos que proibiam aglomerações e discursar pregando o isolamento social, com a revelação de sua festinha de aniversário de 42 anos em um condomínio em Itaipava, na serra fluminense, onde passava o fim de semana. Nela, cerca de vinte convidados sem máscara beberam e comeram costela assada, preparada pelo cozinheiro do palácio. Em vídeo nas redes sociais, ele alegou que “alguns amigos acabaram aparecendo” e pediu desculpas. Moradores do condomínio ouvidos por VEJA afirmaram que aquele não foi o único convescote — na casa alugada para ser uma espécie de refúgio nos dias de folga, o governador teria o costume de reunir a família, amigos e aliados próximos em churrascos nos quais ele mesmo se encarregava de preparar carnes e frutos do mar. Em pelo menos dois deles, chegou de helicóptero oficial, acompanhado da mulher, Analine, e dos dois filhos, João e Maria Eduarda. Os sábados e domingos na serra mobilizavam ainda uma estrutura considerável de seguranças. Diante da repercussão, a casa de Itaipava foi aposentada. “Não tinha privacidade”, queixou-se Castro a um interlocutor.
Em outra ocasião, em dezembro, sob a ameaça gritante do novo coronavírus, Castro foi anfitrião, na residência oficial do comandante da Polícia Militar, no bairro do Flamengo, Zona Sul da capital, de uma recepção de fim de ano para cerca de 100 convidados. Com música ao vivo, regada a uísque, champanhe e vinho, a festa reuniu o primeiro escalão do Palácio Guanabara, seus familiares e assessores — a maioria, sem máscara. O barulho incomodou moradores de um prédio ao lado, que, segundo relatos de testemunhas a VEJA, atiraram ovos pela janela na direção dos convidados. “Quando vi aquilo, não acreditei. Fiquei revoltada”, afirmou uma vizinha. Dois meses depois, em fevereiro, o festeiro governador esteve em uma roda de samba na casa do deputado estadual Max Lemos (PSDB), onde, à vontade e de rosto descoberto, soltou a voz em Domingo, hit dos anos 90 do grupo de pagode Só Pra Contrariar (ele é cantor gospel nas horas vagas).
Conciliador e simpático, Castro, ao aparecer em festas e encontros, mostra-se empenhado em reconstruir as pontes queimadas por Witzel com vistas à eleição de 2022. O entra e sai de seu gabinete, localizado no quinto andar do anexo do Palácio Guanabara, envolve políticos, empresários e servidores de confiança. Não raramente, eles são convidados a discutir alianças enquanto saboreiam garrafas de vinho italiano e francês — entre eles exemplares de safras de primeira linha, de acordo com quem já degustou umas tacinhas.
Um dos temas mais discutidos nesses encontros é o desafio de popularizar o nome de Castro, um vereador muito pouco conhecido quando entrou na chapa de Witzel. Com essa meta no horizonte, articula-se para os próximos meses um tour por igrejas evangélicas e uma rotina de inaugurações — a de um hospital de campanha em Nova Iguaçu, no início de abril, reuniu uma pequena multidão. Não estão descartados eventos em que o governador-cantor dê uma canja. Sua saída do PSC, pelo qual ele e Witzel foram eleitos, é dada como certa e o destino mais provável, o PSD. “Estamos só esperando que o impeachment de Witzel se concretize”, diz um dos articuladores da transição. O governador em exercício cultiva ainda com diligência a proximidade com o clã Bolsonaro, de quem sonha ganhar apoio à candidatura ao governo estadual. Pelo visto, o vice escolhido “porque não tinha outro”, como admitiu a VEJA ao assumir o governo, tomou gosto pela vida palaciana.
Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734