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Ceciliano rebate entrevista de Molon e ataca: ‘ele age pela vaidade’

Candidato do PT fluminense ao Senado diz que PSB não respeitou acordo nacional

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 1 set 2022, 06h58 - Publicado em 1 set 2022, 06h00
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  • A personalidade serena e o perfil conciliador de André Ceciliano, 56 anos, pareciam fazer do deputado estadual pelo PT um candidato competitivo para o Senado no estado do Rio de Janeiro. Diante da capacidade que demonstrou em fazer acordos com políticos de todos os matizes ideológicos como presidente da Assembleia Legislativa do estado, Ceciliano foi escalado por Lula para tentar derrotar Romário e tirar das mãos do PL uma das três cadeiras que a legenda mantém na casa. O plano, porém, esbarrou na insistência do deputado Alessandro Molon (PSB) em concorrer ao mesmo cargo, apesar da aliança feita com o PT em torno da candidatura de Marcelo Freixo ao governo do estado. O impasse dividiu a esquerda e produziu ataques dos dois lados. Até a principal qualidade de Ceciliano, a de hábil articulador político, característica herdada do pai comerciante, se tornou um defeito na boca de seus detratores, que o acusam de fazer o jogo do adversário. Nessa entrevista exclusiva a VEJA concedida no gabinete da presidência da Alerj, Ceciliano acusa Molon de agir movido pela vaidade e afirma que não conta com a simpatia de parte de seu campo político porque ainda é desconhecido.  

    Alessandro Molon, seu adversário na disputa ao senado pelo PSB, se negou a abrir mão da candidatura apesar do acordo que o partido mantém com o PT em nível nacional. Em entrevista a VEJA, ele alegou que essa questão nunca esteve na mesa. O que o senhor tem a dizer sobre isso? Molon conta meias verdades. De fato, não houve acordo com o PT do Rio em torno da candidatura ao Senado, mas o presidente do PSB, Carlos Siqueira, esteve no estado e disse que essa questão seria resolvida com as lideranças locais dos dois partidos. Além disso, a imprensa noticiou que o candidato ao governo do estado pelo PSB, Marcelo Freixo, se reuniu com o Molon e os dois combinaram que se a legenda lançasse candidato ao governo, a vaga ao senado poderia ser negociada. Quero deixar claro que esse é um acerto entre os dois. Não cabe a mim comentar. Ocorre que meu partido fez um acordo nacional, em que ficou acertado que a vaga ao senado caberia ao PT. Diversas lideranças do PSB, como o prefeito do Recife, João Campos, o candidato ao governo de Pernambuco, Danilo Cabral, e o ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, reconheceram isso.

    Mas o acordo nacional passava ou não pela candidatura ao Senado no Rio? Na véspera do anúncio do acordo nacional em fevereiro, o ex-presidente Lula e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, se reuniram comigo e algumas lideranças locais para informar que a gente iria fechar uma aliança nacional e que a vaga do senado caberia a nós. Isso estava acertado. Molon está se vitimizando, mas para mim é apenas mais um candidato. Vamos olhar para frente, fazer campanha. 

    Mas há um impacto considerável em dividir a esquerda em um processo eleitoral, não?  Aí vale a responsabilidade para o futuro de quem vai responder por isso. Recebi a missão de sair ao Senado diretamente do ex-presidente Lula. Para mim, isso basta.  

    Como foi essa conversa? Lula esteve comigo em junho do ano passado. Ficou dois dias hospedado na minha casa. Nós conversamos muito porque havia um movimento grande do PT do Rio para me lançar ao governo do estado. Recebi apoio até do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Mas eu sempre coloquei que o fundamental, acima de qualquer coisa, era a eleição de Lula à presidência e o ex-presidente disse claramente que preferia ter um único candidato ao Senado do que dois ao governo. Estrategicamente, é importante ele ter apoio no Congresso Nacional, caso venha a ser eleito. 

    Como o senhor classificaria essa insistência de Molon em manter a candidatura? É uma postura que coloca em risco um projeto nacional e, em última análise, a própria democracia. Não se pode fragilizar uma aliança por questão de vaidade. No meu programa eleitoral, Lula está presente desde sempre. No do Molon ele não aparece. Por que será?

    É razoável supor que o senhor teria muito voto para deputado federal e poderia, inclusive, ajudar o PT a fazer uma grande bancada na Câmara. Não seria uma alternativa mais segura e até bastante estratégica? O presidente Lula me confiou uma tarefa para mudar o quadro atual de termos três senadores do Rio de Janeiro nas mãos do PL. Precisamos fazer a defesa do estado que não temos no Senado. 

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    O senhor vem da Baixada Fluminense e tem encontrado muita resistência na zona sul do Rio, redutos de Freixo e de Molon. Por que isso ocorre? Por desconhecimento. Posso nomear mais de trinta leis que fiz para mudar a vida das pessoas, entre elas a que reduz o ICMS da conta de luz das comunidades mais pobres e a que criou o vale gás no estado. Esse público não conhece essas iniciativas. 

    Outro rótulo que esse público tem colocado no senhor é o de “cria do Jorge Picciani”, ex-presidente da Alerj, que chegou a ser preso, acusado de corrupção. Procede? De forma nenhuma. A composição da mesa diretora da casa é fruto de uma composição partidária. Não obedece a lógica de ser cria de A, B ou C. Você precisa ter voto para se eleger e, para isso, abre espaço. Quando o presidente foi afastado, eu era o segundo vice. O primeiro, o falecido Wagner Montes, pedia dispensa a cada 30 dias porque não queria ser ordenador de despesas. Eu era o interino do interino. Nunca fui próximo do Picciani. É a mesma coisa que me chamarem de miliciano. Se fosse, de fato, esse pessoal ligado ao Molon não teria nem coragem de me colocar uma pecha dessas. 

    É fogo amigo? Esse fogo não é amigo, né? Esse fogo é inveja porque a gente conversa com todos os espectros políticos. Não dá para ofuscar minha candidatura com essa mentira. 

    Na presidência da Alerj, o senhor abraçou a agenda do governador que hoje apoia o Bolsonaro no plano nacional? Castro nunca teve uma agenda para o Rio. Discordo muito do governador, mas sou presidente de um poder, preciso manter uma relação institucional com quem comanda o estado. Quem assumiu a nossa agenda foi o governo. Sou autor de mais de dez projetos de lei que desoneraram o estado, entre elas o do Fundo Soberano, que chegou a ser vetado por Castro. Derrubamos esse e diversos outros vetos dele. Chega a ser curioso ele abrir seu programa eleitoral na TV como SuperaRJ, um programa de renda mínima proposto por mim. Nunca tive nenhuma conversa com Castro para articular política eleitoral.   

    Mas o senhor participou de alguns atos de campanha em que o governador estava… Fim de semana passada fui a dois eventos que contaram com a presença do prefeito Eduardo Paes e do candidato ao governo pelo PDT, Rodrigo Neves. Só subi no palanque porque o Eduardo insistiu muito. Mas não faço campanha nem para Claudio Castro, nem para Rodrigo. Estou com Freixo. 

    Mas tem foto do senhor até beijando o rosto do governador. Não é muita proximidade com quem faz oposição?  Sou beijoqueiro. Beijo o Freixo toda vez que encontro com ele. Foto minha beijando o Lula tem mais de duzentas. Tem gente de outro partido fazendo santinho com meu nome, mesmo sendo de outros partidos. Isso é da política, fruto da relação que a gente criou aqui de respeito com todos os parlamentares, fosse de direita ou de esquerda. Minha posição institucional é uma, outra coisa é o meu compromisso com o meu partido. 

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    E como o senhor se posiciona em relação a algumas pautas caras à esquerda e que podem passar pelo Senado, como o direito ao aborto, legalização das drogas e casamento gay? O aborto é uma questão saúde pública. Me posiciono favoravelmente à interrupção da gravidez apenas para os casos já previstos em lei. E sou completamente contra qualquer tipo de intolerância, seja sexual, religiosa ou de qualquer outra ordem. Mas é importante ressaltar que nenhuma Assembleia Legislativa elegeu tanto bolsonarista como a nossa e, no entanto, não regredimos no campo dos costumes. Pelo contrário, avançamos. 

    Sem se comprometer com a direita? Que mágica foi essa? Diálogo. Sou filho de comerciante, aprendi a convencer os clientes desde cedo. Não é, como alguns querem fazer crer, que se converso com todo mundo, não sirvo. Mas não tem nenhuma pauta da direita que tenha me comprometido. Propuseram o fim das cotas na Uerj, por exemplo. Não passou. Discurso só é bom para a plateia, não muda a vida de ninguém. 

    As pesquisas de intenção de voto dão uma vantagem considerável para o Romário na corrida pelo Senado. Qual avaliação que o senhor faz do mandato dele? Vi um panfleto outro dia em que ele afirma que trouxe 360 milhões de reais para o estado do Rio. Os dados não condizem com o que aparece no Portal da Transparência do Senado. Foram 113 milhões de reais empenhados, sendo que apenas 51 milhões foram liberados. Ele está mentindo. Meu desafio é me tornar conhecido. Se conseguir, tenho certeza que serei eleito. 

    E se não se eleger? Não tem problema, trabalho desde os 9 anos de idade e entrei com 17 anos no mercado financeiro. Minha vida está resolvida. 

    Falam muito que o senhor poderia aceitar participar do governo, tem alguma articulação nesse sentido? A turma brinca, mas não passa disso. Não tem nenhuma articulação nesse sentido. Quero ser senador do estado do Rio de Janeiro.     

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