Um café da manhã no último fim de semana elevou o grau das conversas para que o ex-prefeito carioca Cesar Maia, pai do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, ocupe o posto de vice na chapa do pessebista ao governo do Rio de Janeiro. O resultado da conversa foi considerado proveitoso, e os dois lados encaram com otimismo a possibilidade. A família de Cesar e Rodrigo está hoje no PSDB, comandado pelo deputado em terras fluminenses. O movimento, no entanto, esbarra sobretudo em uma pessoa: o prefeito Eduardo Paes, presidente do PSD no estado e fiador político da candidatura de Felipe Santa Cruz ao Palácio Guanabara.
Rodrigo Maia, que tem boa comunicação com Freixo, sinalizou que é entusiasta da ideia e pediu cerca de dez dias para levar a situação a Paes, que para muitos bons observadores da política do Rio está ficando isolado no jogo – Santa Cruz não passa dos 3% nas pesquisas. No PT, partido mais robusto da aliança em torno do nome do PSB até aqui, também há um movimento para “entender” o prefeito, que tem sido um enigma. Além de uma conversa com os petistas locais, Paes tende a buscar um papo com Lula, seu amigo dos tempos de primeiro mandato e hoje o maior fiador da empreitada de Freixo. No grupo do prefeito, o petista tem aprovação, mas seu apadrinhado é alvo de uma quase unânime rejeição.
Semi-inexistente no Rio. o PSDB tinha acordo com o PSD para apoiar o ex-presidente da OAB, mas vê na candidatura do ex-Psol uma forma de ser mais relevante no estado, dadas as chances de vitória dele. Para Freixo, Cesar Maia simbolizaria o movimento de inflexão ao centro que vem tentando fazer desde que mudou de partido – atrelando a si a imagem de gestor responsável do ex-prefeito, que foi desafeto de Lula nos tempos em que eles comandavam simultaneamente o município e o país.
Uma possibilidade aventada, caso Paes drible as nada pequenas resistências dele e de seu grupo a Freixo e tope o acordo, seria colocar Santa Cruz na disputa para o Senado – o que faria o PT ter que sacrificar a candidatura de seu maior articulador político no Rio, o hoje presidente da Alerj André Ceciliano. A hipótese é considerada difícil. Há quem diga, em outra linha, que o advogado abraçado pelo prefeito não tenha interesse em ir para Brasília, e sim continuar no estado. Uma possibilidade, nesse caso, seria virar deputado estadual e conseguir a promessa de apoio numa eventual eleição para o comando da Assembleia, cargo que – Ceciliano sabe bem – traz consigo enormes poderes num Rio marcado por governos frágeis nos últimos anos. Tudo isso, porém, ainda é visto como especulação, e ninguém parece acreditar numa concessão de Paes, até aqui irredutível quanto à candidatura do ex-presidente da OAB.
Com origens políticas na esquerda – chegou a ser exilado no Chile do socialista Salvador Allende -, Cesar vem dando sinais de que pretende fazer uma guinada progressista na reta final da vida pública, o que vai na contramão do movimento feito quando rompeu com o ex-governador Leonel Brizola (PDT) e seguiu um rumo mais ao centro, ainda no século passado. Publicamente, ele ainda desconversa sobre a possibilidade. Não nega, mas tampouco confirma, e joga a responsabilidade para o filho: “Ele é quem deve falar”, disse, sucinto, em resposta a mensagem de VEJA.