Ciro poupa Haddad, seu concorrente à esquerda, e ataca Bolsonaro
Pedetista adota tom amigável com petista, enquanto critica propostas econômicas e ausência do candidato do PSL no debate da TV Globo
Embora dispute com Fernando Haddad (PT) o eleitorado de esquerda e centro-esquerda na eleição presidencial e esteja onze pontos atrás do petista na pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (4), Ciro Gomes (PDT) poupa Haddad de críticas diretas e perguntas incômodas no debate da TV Globo. Por outro lado, Ciro tem centrado fogo em Jair Bolsonaro (PSL), líder dos levantamentos, ausente no debate por recomendações médicas.
Em uma inusitada dobradinha com o emedebista Henrique Meirelles, o pedetista criticou o que chama de “fuga” do deputado, “que estava dando entrevista na outra emissora (Record)”, e lembrou que participou do debate do SBT com uma sonda “pendurada” – ele havia passado por uma cauterização de vasos da próstata na noite anterior.
O cearense declarou também que o bom desempenho de Bolsonaro nas pesquisas, aliado à sua obsessão por facilitar o armamento da população, têm rendido lucro a aliados e apoiadores do deputado com a alta nas ações de fabricantes de armas no país.
Ainda em seu arsenal anti-Bolsonaro, Ciro Gomes rememorou as declarações do general Hamilton Mourão, vice do deputado federal, contra o 13º salário, e as propostas do economista bolsonarista Paulo Guedes de recriar a CPMF e impor uma alíquota única de imposto de renda, isentando quem ganha até cinco salários mínimos. “E Bolsonaro nega (as propostas dos aliados) quando vê a repercussão”, observou Ciro, que se diverte: “o que me assusta não é só a mentira, mas como uma equipe com três pessoas briga tanto”.
Já diante de Fernando Haddad, com quem o candidato do PDT briga por votos esquerdistas, o clima é amistoso e o petista é poupado — quando não faz as vezes de companheiro para atacar Jair Bolsonaro. Em uma questão do petista sobre meio ambiente e agricultura, por exemplo, sem que Haddad tenha citado o candidato do PSL, o pedetista respondeu que para executar projetos na área “tem que ter condição política para enfrentar o fascismo e a radicalização estúpida que o Bolsonaro representa”.
Na mesma interação, depois de Ciro citar sua vice, a senadora ruralista Kátia Abreu (TO), Haddad tomou o cuidado de separar os ruralistas “modernos” dos “arcaicos, que apoiam Bolsonaro”. A bancada do setor no Congresso divulgou na última terça-feira (2) que está ao lado do capitão da reserva.
Em outra questão em que poderia escolher adversários a responder, Fernando Haddad chamou Ciro Gomes a comentar sobre a reforma da Previdência. Ambos atacaram as mudanças nas aposentadorias propostas pelo presidente Michel Temer. “O Bolsonaro pensa igual (Temer)”, sentenciou Ciro, que concordou com o petista em relação à necessidade de haver idades mínimas diferentes para aposentadoria, conforme perfis dos trabalhadores e as regiões em que vivem.