Desde o início de seu mandato, Lula reservou por diversas vezes a agenda presidencial para tentar arbitrar a rivalidade entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), históricos adversários políticos de Alagoas.
A dupla tem protagonizado uma série de embates que respingam no governo, o que forçou o presidente a tentar um cessar-fogo.
As ferramentas utilizadas pelo presidente chamam atenção. Inicialmente, Lula recebeu os adversários separadamente e disparou telefonemas. Em maio, ouviu de Arthur Lira que não ia mais aceitar ser desrespeitado por Renan – e que iria partir para cima dele. Desde então, a seu modo debochado, o presidente tenta jogar água na fervura fazendo troça da relação. “E o Renan, hein? Aquele filho da…”.
Já diante do senador e outros congressistas, o presidente relatou as lamúrias do chefe da Câmara, que acusava Renan de estar por trás de operação da Polícia Federal contra um assessor, e que havia indicado ao deputado que, assim como ele o fez durante a Lava-Jato, enfrentasse as acusações. Renan vibrou com a resposta do petista.
Em junho, Lula viajou com o primogênito de Calheiros e ministro dos Transportes, Renan Filho, para um evento na Bahia. Diante de apoiadores, fez questão de elogiar a atuação do alagoano e dizer que ele, em cinco meses de governo, investiu mais em estradas do que o governo de Jair Bolsonaro ao longo de um ano inteiro.
Ao mesmo tempo, trocou telefonemas com o presidente da Câmara em um tom amigável. Os dois chegaram a fazer troça do conflito. “O senhor me leva na próxima viagem?”, disse Arthur Lira ao presidente. “Levo. O senhor fica de um lado e o Renan do outro”, ironizou o petista.
Lira e Renan à mesa
Em dezembro, num esforço ainda maior, Lula colocou Lira e Renan frente a frente, ao lado de outros políticos alagoanos, para discutir a instalação da CPI da Braskem, criada para apurar a responsabilidade da empresa no desastre ambiental de Maceió que afetou 200 mil pessoas. A dupla não se sentava para conversar havia mais de quatro anos, tamanha a animosidade entre os dois.
Após ele próprio arbitrar a disputa, Lula invocou “o meu amigo” Emílio Odebrecht para pedir cautela nas apurações da comissão. Emílio é herdeiro da Odebrecht, empreiteira que foi rebatizada de Novonor após ser pilhada na Lava-Jato e que é acionista majoritária da Braskem. Até o momento, e apesar de todo o esforço do presidente – e de seu amigo -, não há nenhum sinal de trégua.