A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) já gastou 25 milhões de reais na reforma do Edifício Lucio Costa, onde será sua nova sede, só neste ano. Os custos ocorrem em um momento de profunda crise estadual. Servidores não recebem salários em dia há meses. A última parte dos vencimentos de maio e junho, além de todo o mês de julho, só foram pagos na semana passada, com recursos da venda da exclusividade da folha de pagamento ao Bradesco. A Universidade do Estado do Rio (UERJ) suspendeu as aulas por falta de recursos. Os policiais militares não receberam hora extra, não há previsão para quitar o 13º salário de 2016, e os hospitais não têm insumos básicos.
O custo total da obra da nova sede é estimado em 152 milhões de reais – valor suficiente para quitar três meses de salários dos 8.560 funcionários ativos da UERJ. A folha consome 50,6 milhões de reais por mês, segundo dados da Secretaria Estadual da Fazenda. A Alerj também reforma sua atual sede, o Palácio Tiradentes, um prédio dos anos 1920 que abrigou a Câmara dos Deputados até a mudança da capital para Brasília, em 1960, e vai virar centro cultural. Essa obra custará mais 19,4 milhões de reais.
Atualmente, além do palácio, onde fica o plenário, o Legislativo estadual tem o prédio anexo destinado aos gabinetes dos deputados e um edifício na Rua da Alfândega. Esse, onde ficam os departamentos administrativos da Alerj, será repassado ao governo estadual, como pagamento pelo Edifício Lucio Costa, que pertence ao Executivo.
A decisão de gastar dinheiro com a nova sede para a Alerj foi tomada em outra época. Seu padrinho foi o ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB), que, em meio às obras de reforma da zona portuária, começou a se opor ao edifício destinado aos gabinetes dos parlamentares, atrás do Palácio Tiradentes. O então prefeito achava que o prédio não combinava com a nova paisagem, vislumbrada após a derrubada da Perimetral, um elevado que bloqueava a vista. Com fachadas de mármore e sem estilo definido, o edifício fica perto de construções antigas, como o Paço Imperial, e a poucos metros do mar.
O Edifício Lucio Costa, também é conhecido como “Banerjão”, foi erguido nos anos 1960 e ficou no patrimônio estadual, apesar de ter pertencido ao Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), privatizado há duas décadas. Engenheiros avaliaram o prédio de 22 mil metros quadrados de área utilizável, 32 andares e três subsolos. Uma reforma seria inevitável: havia problemas estruturais.
O gasto inicial já era alto: 139,5 milhões de reais. Pouco depois, a obra foi reajustada em 8,9 milhões de reais e passou para 148,4 milhões de reais. Além disso, teriam de ser gastos mais 4,057 milhões de reais “em assistência técnica de fiscalização das obras”, não incluídas no orçamento inicial. Isso elevaria o custo da reforma, para mais de 152 milhões de reais.
Alerj
A Assembleia informou que as obras são financiadas com recursos do Fundo Especial do Legislativo, “fruto de oito anos de economias feitas pela Casa”. Questionada se o momento seria apropriado para reforma, a Alerj respondeu que “está com as contas em ordem, graças a ajustes feitos no início dessa legislatura”. Afirmou ainda que “também tem feito a sua parte para ajudar a combater a grave crise que atinge o Rio”.
(Com Estadão Conteúdo)