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Como o PT pretende transformar Haddad em Lula

Prestes a virar candidato oficial do PT ao Planalto, o ex-prefeito de São Paulo se ocupa agora de um processo de metamorfose: como virar um Lula sem barba

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 set 2018, 12h13 - Publicado em 8 set 2018, 08h13

Com Lula afinal e oficialmente fora do páreo, apesar dos recursos e recursos e recursos, sobrou para o PT um bom abacaxi para descascar. A um mês do primeiro turno, o partido tem de convencer o segmento menos ideologizado de seus eleitores de que o ex-prefeito Fernando Haddad (ou “Andrade”, conforme o registro que se disseminou em parte do Nordeste) é praticamente um Lula sem barba. A empreitada já seria difícil se a afirmação fosse verdadeira. E fica ainda mais complicada quando se sabe que nada poderia ser mais falso.

E não é falso apenas porque Haddad – professor universitário, bacharel em direito, mestre em economia, doutor em filosofia – considera adequado abrir um comício dizendo para as multidões que sua campanha “representa a antítese do status quo”. Mas é falso também porque, considerado pelo próprio partido o mais tucano dos petistas, o ex-prefeito de São Paulo, que deve sagrar-se cabeça de chapa de seu partido na próxima semana, é conhecido na sigla por sua pouca afinidade com movimentos sociais e uma queda pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem já elogiou publicamente mais de uma vez. Mas isso está mudando. Desde que abraçou a ideia de suceder o ex-presidente Lula na campanha, Fernando Haddad está se deixando transformar.

No dia 20 de agosto, em reunião do conselho político do PT, formado por dirigentes e intelectuais alinhados ao partido, em São Paulo, o ex-prefeito foi instado – e aceitou – assumir o compromisso de, caso eleito, fazer um “governo coletivo”. Na prática, isso significa “comprar” com a porteira fechada o programa do partido. Estavam presentes ao encontro a cúpula do PT e os chamados ideólogos da sigla, como o ex-chanceler Celso Amorim e o escritor Fernando Morais. Haddad também foi aconselhado por eles a buscar aproximação com os movimentos sociais, centrais sindicais e representantes religiosos – gestos fundamentais para ganhar o apoio da base petista, sem a qual ele não teria condições de prosperar na campanha. A mensagem, nas entrelinhas, era que, como estreante no pleito e segunda opção de Lula (a primeira era o ex-­governador da Bahia Jaques Wagner, que declinou da oferta), ele deveria ter a humildade de se deixar instruir pelo partido. Ficou claro que o menor sinal de empenho em um projeto pessoal seria interpretado como uma traição.

No fim de agosto, Haddad concordou em deixar a cargo do partido a elaboração de seu plano de governo, que previa um rosário de reformas que remetem ao PT pré-governo Lula. Incluídas aí a regulamentação da mídia e do sistema judiciário (com a revisão da lei anticorrupção e da delação premiada) e a revogação da reforma trabalhista, aprovada pelo governo Temer. A despeito da fama de ser pouco afeito à diplomacia partidária, Haddad disse amém ao que ouviu.

Algumas mudanças no futuro candidato oficial do PT já são mais visíveis. A dicção acadêmica está sumindo aos poucos e frases que eram recorrentes no início da eleição começam a vir traduzidas (aquela em que prometia ser a “antítese” do “status quo” virou que ele é “contra o projeto de Temer, que ameaça o Bolsa Família e afeta os mais pobres”).

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Se a estratégia principal de campanha é a fusão da imagem de Haddad com a de Lula, a secundária é reavivar o antigo confronto PT versus PSDB. Ainda que Geraldo Alckmin esteja em quarto lugar nas pesquisas, o PT quer minar as chances de subida do tucano porque prefere disputar o segundo turno com Jair Bolsonaro (PSL), que apresenta um elevadíssimo índice de rejeição de 44%. Essa porcentagem, no entender do PT, aumentaria a probabilidade de o pleito se tornar um plebiscito sobre a vitória do ex-capitão do Exército. A amigos, Haddad tem dito estar satisfeito por Alckmin não ter, até momento, conseguido angariar votos do PT, mesmo dispondo de mais tempo de TV e uma estratégia direcionada a desconstruir Bolsonaro – hoje, o maior antagonista do partido.

Fernando Haddad

Na última semana, Haddad trilhou lugares históricos percorridos por Lula. No sábado, visitou Guaranhuns (PE), terra natal do ex-presidente, onde vestiu chapéu de cangaceiro e andou de cavalo. Na última quarta-feira, ele madrugou na porta da fábrica da Mercedes Benz e da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, relembrando o roteiro da campanha salarial liderada pelo ex-presidente, em 1978.  Em seguida, fez uma caminhada pelo centro de Diadema. Ele se apresentou às pessoas na rua, contando os seus feitos como ministro da Educação de Lula. “Vocês conhecem o Sisu, o Prouni?”, perguntou a um grupo de três estudantes, que fizeram um não com a cabeça, acanhados. “Não conhecem mesmo?”, questionou novamente Haddad, deixando para lá o assunto e prosseguindo a caminhada. Depois, entrou em um açougue, de onde ouviu de um funcionário que “ele ainda precisa correr muito para alcançar Lula”. 

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Enquanto Haddad se esforça em seu processo de metamorfose, a defesa do ex-presidente tenta suas últimas cartadas. Na quinta-feira, a principal aposta dos advogados fracassou. O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin negou o pedido de liminar feito pela defesa do petista, que se baseava na recomendação de um conselho consultivo da ONU que defende a manutenção dos direitos políticos de Lula. Fachin, que dias antes havia sido o único ministro a votar favoravelmente a Lula no julgamento do TSE, desta vez decidiu contra o petista. Alegou que a recomendação da ONU era válida na esfera eleitoral, e não na penal. Em seguida, foi a vez do ministro do STF Celso de Mello rejeitar um pedido de liminar que visava manter a sua campanha enquanto outro recurso ainda não era apreciado no TSE.

Apesar de o recurso ainda estar pendente, os advogados de Lula já reconhecem que não deve haver tempo para serem julgados antes do próximo dia 11, data-limite determinada pela Justiça Eleitoral para a substituição da chapa petista. Antes de ser declarado inelegível, o ex-presidente marcava 39% de intenções de voto no Datafolha, enquanto Haddad, quando posicionado como seu candidato, pontuava apenas 4%. Na primeira pesquisa sem Lula, feita pelo Ibope nos três primeiros dias do horário eleitoral na TV, ele sobe para 6%. Está ainda muito longe de parecer capaz de herdar o legado de seu padrinho. Mas, como mostra sua metamorfose, está decidido a conseguir isso.

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