O ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ficou em silêncio em depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira, em Curitiba. As perguntas formuladas pelos investigadores, e não respondidas pelo peemedebista, tratavam do inquérito que apura o envolvimento de Cunha nos crimes investigados pela Operação Cui Bono?, deflagrada em janeiro contra fraudes e arrecadação de propina na liberação de investimentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.
O advogado de Cunha, Délio Lins e Silva, afirma que o ex-presidente da Câmara se calou porque já é réu em uma ação penal na Justiça Federal do Distrito Federal aberta a partir dos mesmos crimes investigados na Cui Bono?. A operação teve como principal alvo o ex-ministro Geddel Vieira Lima e foi desencadeada a partir da Operação Catilinárias, que cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Cunha em dezembro de 2015.
Lins e Silva nega que Cunha negocie uma delação premiada com o Ministério Público Federal e diz que sua postura no depoimento de hoje não tem relação com tratativas neste sentido.
Conforme VEJA revelou na semana passada, no entanto, a delação de Eduardo Cunha já tem 130 capítulos, pelo menos dez deles dedicados a relatar aos investigadores supostos crimes cometidos pelo presidente Michel Temer. O ex-deputado se dispõe a narrar histórias que mostram que Temer não só sabia dos esquemas de corrupção montados nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma como tinha poder de mando sobre eles, além de se beneficiar diretamente das propinas pagas por empresas parceiras do PMDB.
O acordo, que nos próximos dias entrará na fase decisiva de negociação, é visto pela Procuradoria-Geral da República como peça importante para compor as investigações das quais o presidente é alvo. No entender dos investigadores, como partícipe privilegiado da máquina de corrupção montada pelo PMDB no governo federal durante os anos de sociedade do partido com o PT, Cunha tem condições de trazer à luz elementos que possam ajudar a esquadrinhar a cadeia de comando do esquema.
Os representantes do ex-deputado já informaram aos auxiliares do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, além dos relatos que complicam a situação de Michel Temer, ele promete aniquilar os dois ministros mais próximos do presidente, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), e também relatar supostos crimes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).