Defesa de Adélio diz que ‘discurso de ódio’ motivou ataque a Bolsonaro
Homem que esfaqueou presidenciável é defendido por quatro advogados particulares. Ele será transferido a presídio federal nos próximos dias
A defesa de Adélio Bispo de Oliveira, o homem que esfaqueou o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) nesta quinta-feira, 6, em Juiz de Fora (MG), afirma que ele agiu sozinho e por motivação política. Dentre os motivos estaria o “discurso de ódio” do deputado federal e candidato à Presidência. Preso em flagrante, Adélio compareceu nesta sexta-feira, 7, a uma audiência de custódia na sede da Justiça Federal na cidade mineira, na qual a juíza Patrícia Alencar definiu que ele será transferido a um presídio federal.
“Ele (Adélio) salienta que agiu de forma solitária. Aquele dolo, aquela intenção, era só dele. Não estava mancomunado, não havia concurso de pessoas”, disse o advogado Zanone Manoel de Oliveira Júnior, um dos quatro que defendem o acusado. Segundo Oliveira Júnior, o grupo aceitou defender Adélio “por questões de igreja e familiares”.
Os advogados dizem que o enquadramento na Lei de Segurança Nacional e a transferência para um presídio federal foram corretos, mas afirmam que há “atenuantes” que deverão ser levados em conta ao longo do processo. Um deles seria uma possível condição de insanidade mental.
“Nós queremos analisar o estado da psique do nosso constituinte, mas nós já estamos numa situação ‘confortável’. Nosso constituinte é confesso. Ele não nega autoria em momento algum e não traz qualquer partícipe, qualquer coautor para os acontecimentos”, disse Oliveira Junior.
Segundo o advogado, até mesmo a motivação política do atentado serviria como atenuante. “A própria motivação política, o próprio discurso de ódio da vítima. Nosso constituinte (Adélio) é negro, se considera um negro, e aquela declaração de que um negro não serviria sequer pra procriar atingiu de uma forma avassaladora a psique de nosso constituinte”, afirmou o advogado, citando a declaração de Jair Bolsonaro em palestra na Hebraica do Rio de Janeiro, em 2017.
“O discurso foi o combustível. Se tudo na vida existe uma causa, um porquê, esse discurso do candidato, da vítima, é que desencadeou essa atitude extremada do nosso cliente”, insiste o defensor.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) por declarar na palestra no Rio que membros de um quilombo no interior de São Paulo “não fazem nada” e “não servem nem para procriar mais. Bolsonaro é acusado do crime de racismo neste caso. A Primeira Turma do STF tem dois votos para receber a denúncia da PGR e dois votos para rejeitá-la. Resta um voto, o do ministro Alexandre de Moraes.
O advogado de Adélio Bispo de Oliveira informou que a defesa concordou com a transferência dele para um presídio federal, para garantir sua integridade, e afirmou ainda que vai pedir um exame de sanidade mental em seu cliente.