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Delegada de Goiânia é a única candidata competitiva do PT nas capitais

Nome da esquerda na capital do agronegócio, Adriana Accorsi tem responsabilidade grande em uma temporada difícil para o partido

Por Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h42 - Publicado em 26 abr 2024, 06h00

Em 2020, quando tentou pela primeira vez a prefeitura de Goiânia, Adriana Accorsi sentiu o tamanho da dificuldade que teria para, como delegada da Polícia Civil, empunhar no estado a bandeira do PT, ao qual é filiada desde 1990. “Não existe policial esquerdista, porque defende bandido. Tem que morrer. Goiás não é a m… do Nordeste”, ameaçou em privado no Instagram um usuário, que foi encontrado e preso logo depois. Adriana chegou em terceiro naquela disputa, foi eleita deputada federal em 2022 e agora tenta novamente o comando da cidade em uma condição bem peculiar: no coração do agronegócio, a policial é, por ora, a mais competitiva candidata do PT em todas as capitais.

A responsabilidade dela é grande, já que o petismo planeja não repetir o fiasco de 2020, quando não elegeu nenhum prefeito nas capitais, rompendo uma tradição que vinha desde a criação da legenda. O partido, no entanto, nem tem candidatos próprios nos dois maiores colégios eleitorais (São Paulo e Rio de Janeiro). Enquanto isso, no Nordeste, onde tem a sua base eleitoral, não é favorito em nenhuma cidade. Em Goiânia, segundo levantamento de fevereiro do instituto Paraná Pesquisas, Adriana aparece numericamente à frente, com 22,1%, seguida do senador Vanderlan Cardoso (PSD) e do deputado Gustavo Gayer (PL) — a margem de erro é de 3,8 pontos. Ainda que pequena, a vantagem é significativa, considerando-se que nenhum outro petista lidera hoje a corrida em outras capitais.

CABO ELEITORAL - Caiado: com alta aprovação, ele tenta quebrar tabu
CABO ELEITORAL - Caiado: com alta aprovação, ele tenta quebrar tabu (Kaio Lakaio/VEJA)

Candidata de esquerda em uma cidade que deu 64% dos votos a Jair Bolsonaro no segundo turno de 2022, Adriana aposta na sua longa trajetória política. Ela é filha de Darci Accorsi, professor e filósofo que foi um dos primeiros prefeitos do PT no país ao vencer a eleição em Goiânia em 1992. Policial desde 2000, Adriana foi a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil no estado, entre 2012 e 2013. Depois, elegeu-se deputada estadual por dois mandatos e chegou em 2022 pela primeira vez à Câmara, onde é vice-líder do PT e autora de 24 projetos de lei — boa parte sobre violência contra a mulher e direitos civis. Ter como centro da sua atuação a bandeira da segurança pública também é outro diferencial para quem é de esquerda, segmento que tradicionalmente tem dificuldades com a pauta, largamente explorada pela direita. Adriana defende a atuação de Lula na questão, diz que “a maior parte da política de segurança é feita pelos estados” e que o “poder de atuação do governo federal é limitado” (veja a reportagem na pág. 22).

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A principal aposta política de Adri­ana, no entanto, é na interlocução com quem pensa diferente. “Não sou uma candidata extremista nem radical de esquerda. Sou conhecida pela minha postura democrática”, diz. Afirma ter relação “muito cordial” com o agronegócio e que sua candidatura atende a um pedido do próprio Lula, que pena para ter inserção no Centro-­Oeste e no agronegócio, que lhe oferecem grande objeção política — o presidente planeja visitar Goiás ainda no primeiro semestre, o que seria um gesto inédito no seu terceiro mandato.

Considerada uma das prioridades do PT na eleição, a conquista de Goiânia não será fácil. Vanderlan Cardoso foi para o segundo turno nas duas últimas eleições municipais, fazendo mais de 40% dos votos. Já Gustavo Gayer, da ala mais panfletária do bolsonarismo, tem o apoio do ex-presidente, um cabo eleitoral importante no estado. Também entrou na disputa recentemente Sandro Mabel, ex-assessor especial do então presidente Michel Temer e hoje presidente da Federação das Indústrias de Goiás, que também tem um padrinho que pode ser decisivo: o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), cuja gestão é aprovada por 86% dos eleitores no estado, segundo pesquisa Quaest feita em abril. Ele pretende quebrar a escrita de um candidato apoiado pelo governador nunca ter vencido a eleição na capital goiana.

PADRINHO - Gayer (no centro) e Bolsonaro: 64% dos goianos votaram no capitão
PADRINHO - Gayer (no centro) e Bolsonaro: 64% dos goianos votaram no capitão (Guilherme Honorato/PL Goiás/.)

O fato de correr sozinha enquanto aposta do campo da esquerda e o de enfrentar uma direita fragmentada no estado representam trunfos para Adriana Accorsi, mas podem ser um problema em um eventual segundo turno. É muito provável que, nessa fase da disputa, os demais concorrentes estejam juntos do outro lado — Caiado chegou a ir ao lançamento da candidatura de Gayer junto com Bolsonaro. “O nosso trabalho é para o segundo turno”, afirma Vanderlan, apostando na repetição dos feitos de 2016 e 2020.

Embora a eleição caminhe para um enfrentamento entre direita e esquerda, Caiado acha difícil que a polarização seja o fator decisivo. “O debate será sobre quem tem mais condições de gerir essa cidade”, diz. Historicamente, as eleições municipais costumam, de fato, ser decididas por questões locais, mas pesquisas mostram que segurança pública poderá ter um grande peso no debate. A questão é saber quanto a delegada vermelha terá de “bala na agulha” para vencer o difícil duelo que se avizinha no cerrado.

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890

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