Deputada Carla Zambelli tentou negociar ida de Moro ao STF
Ex-juiz expôs troca de mensagens entre ele e a parlamentar para provar que não fez chantagem por vaga no Supremo em troca de aceitar troca de comando na PF
Eleita na onda bolsonarista do pleito de 2018 com discurso demagógico de combate à corrupção, a deputada Carla Zambelli vem se mantendo como uma das aliadas mais fieis do presidente Jair Bolsonaro e se destaca também como ardorosa defensora da tática de tentar desqualificar a imprensa tradicional sempre que ocorre uma cobertura crítica ao governo. Na noite desta sexta-feira, 24, ela foi desmascarada em rede nacional. Segundo mensagens fornecidas pelo ex-juiz Sergio Moro ao Jornal Nacional, em meio à crise que culminou na queda do ministro da Justiça, Zambelli conversou com ele pelo WhatsApp para tentar convencê-lo a aceitar o nome de Alexandre Ramagem, diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), como o sucessor de Marcelo Valeixo no comando da Polícia Federal. Em troca, a deputada se ofereceu a convencer Bolsonaro a indicá-lo para o Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro, para a vaga do ministro Celso de Mello, que irá se aposentar. Segundo o JN, o diálogo ocorreu na quinta, 23. O ex-ministro não topou a barganha, respondendo: “Não estou a (sic) venda”.
A conversa de Zambelli com Moro, se oferecendo para viabilizar uma vaga de ministro do STF para o ex-juiz em troca de ele aceitar alguém que não era de sua vontade para o cargo mais importante da PF, contradiz a imagem de militante anticorrupção que a deputada federal construiu nos últimos anos e que a levou ao Congresso. Ela ganhou projeção como líder do Nas Ruas, um dos movimentos que organizaram as grandes manifestações de rua que levaram à queda da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Outra contradição: enquanto tentava esse tipo de negociação com Moro para ajudar o governo a estancar a crise, Zambelli disparava tuítes acusando de fake news as notícias da imprensa sobre a iminente saída do ministro por conta da crise gerada pela troca de comando na PF. “A mídia nos pregando uma peça mais uma vez. a bolsa caiu com essas falácias. @SF Moro não vai sair”, escreveu ela na mesma quinta, 23.
A deputada ficou tão próxima a Moro que o ex-ministro foi o padrinho do casamento dela, realizado em fevereiro. Na ocasião, ele discursou e dançou valsa. Na crise recente que levou a sua saída do governo, Moro acabou expondo Zambelli ao tornar pública a troca de mensagens entre os dois para provar que nunca negociou uma ida ao STF como condição para aceitar a substituição da chefia da PF — como afirmou nesta sexta o presidente. Por outro lado, a deputada mostrou ser mais fiel ao presidente do que ao seu padrinho de casamento. Ela, inclusive, estava na entrevista coletiva que Bolsonaro deu no final da tarde para rebater as afirmações de Moro (veja abaixo). Em vídeo publicado na noite de sexta em suas redes sociais, Zambelli expôs toda a sua frustração pela iniciativa de Moro de revelar a conversa entre eles ao Jornal Nacional. Se disse “decepcionada”, questionou qual era o propósito dele de ter feito isso, afirmou que até então se considerava sua amiga e classificou o gesto do seu padrinho de casamento de “extremamente maligno”.
Fora a defesa incondicional de Bolsonaro, Zambelli se destacou por um episódio polêmico. No ano passado, veio a público pelo site de VEJA a manobra que fez para conseguir que seu filho fosse matriculado no sexto ano do ensino fundamental do Colégio Militar de Brasília sem que tivesse que passar pelo processo de seleção de candidatos. Zambelli justificou o ato dizendo que solicitou a vaga por causa de ameaças sofridas por ela e por seu filho. Afirmou que essas ameaças, que começaram em 2016, são feitas por um grupo que, segundo ela, está ligado a dois massacres ocorridos em escolas brasileiras – o de Realengo, no Rio (em 2011, que deixou treze mortos) e o de Suzano, no Estado de São Paulo (em 2019, com dez mortos).
Confira abaixo a troca de mensagens entre Zambelli e Moro divulgada pelo JN: