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Dodge: inquérito sobre fake news é ‘compatível com sistema inquisitorial’

Em ação movida pela Rede Sustentabilidade, chefe da PGR defende arquivamento da investigação aberta pelo STF para apurar ofensas a ministros

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 3 Maio 2019, 22h12 - Publicado em 3 Maio 2019, 20h32

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifestou pela procedência de ação movida pela Rede Sustentabilidade contra o inquérito conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar supostas ofensas contra ministros da Corte. Para a chefe do Ministério Público Federal (MPF), o modo como a apuração foi aberta e é conduzida é “compatível com o sistema inquisitorial” e o inquérito deve ser arquivado.

“A investigação por Ministro do STF previamente escolhido, de fatos genéricos, de modo sigiloso, sem a participação do Ministério Público, é prática compatível com o sistema inquisitorial, mas não com o sistema acusatório”, argumentou Dodge.

O inquérito foi aberto em março, pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli, a fim de apurar fake news, denunciações caluniosas e ameaças que atingem a “honorabilidade e a segurança do STF”, de seus membros e familiares, extrapolando a liberdade de expressão.

A investigação está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, indicado por Toffoli para o posto. Moraes chegou a determinar a retirada do ar de uma reportagem que cita o presidente da Corte, além de duas medidas de buscas e apreensões contra críticos suspeitos de ofender integrantes do STF. O ministro recuou, dias depois, da decisão da censura sobre a revista digital Crusoé.

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Contra a investigação, a Rede de Sustentabilidade moveu uma ação em que compara o procedimento ao Ato Institucional nº 5, de 1968, o mais pesado golpe do regime militar às garantias constitucionais, que, entre outras medidas, instaurou a censura, proibiu manifestações políticas e fechou o Congresso. Para os advogados da legenda, o inquérito visa a “intimidar” quem eventualmente criticar a postura dos ministros da Corte.

No âmbito da ação do partido, relatada pelo ministro Edson Fachin, a procuradora-geral foi requerida a se manifestar. Em parecer, ela afirma que “as medidas cautelares foram destinadas a pessoas que fizeram postagens grosseiras e depreciativas”. “Em que pese não haver dúvida de que Ministros do STF merecem o mais elevado respeito, o conteúdo crítico das mensagens está autorizado pela liberdade de expressão, garantida a todos pela Constituição (art. 5º-IX), que abrange o direito de crítica”.

“Este autoriza que mesmo as mais altas autoridades públicas do país possam sofrer críticas da população pelos seus atos, ainda que se trate de críticas injustas e ácidas e, por isso, incômodas. Na verdade, justamente por serem autoridades públicas, elas estão sob permanente escrutínio popular, no ambiente republicano, uma das vigas que sustentam o Estado brasileiro”, afirma.

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Dodge ressalta que “algumas medidas cautelares foram determinadas pelo Ministro Relator sem qualquer participação da PGR. Isso significa que o próprio Ministro Relator avaliou a pertinência dessas medidas para a investigação”.

“Aqui, um agravante: além de investigador e julgador, o Ministro Relator do Inquérito 4781 é vítima dos fatos investigados – que seriam ofensivos à ‘honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares’. Não há como imaginar situação mais comprometedora da imparcialidade e neutralidade dos julgadores – princípios constitucionais que inspiram o sistema acusatório”, sustenta Raquel Dodge.

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Durante a censura à revista Crusoé, a procuradora-geral da República havia solicitado o arquivamento do inquérito, mas foi ignorada tanto por Moraes quanto por Toffoli, que não só manteve a apuração em curso como a prorrogou por mais noventa dias.

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