Em artigo ao ‘New York Times’, Lula critica Moro:’Ele se tornou intocável’
Texto é publicado um dia antes de o PT pedir o registro de candidatura do ex-presidente no Tribunal Superior Eleitoral
O jornal The New York Times publicou nesta terça 14 um artigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que ele defende sua candidatura a presidente nas eleições de 2018 e diz que ‘o tempo corre contra a democracia’ — nesta quarta, o PT vai oficializar no Tribunal Superior Eleitoral o registro de candidatura do petista, condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
O título do artigo em inglês diz que “Há um golpe de direta em curso no Brasil” (na versão em português e espanhol o título é “Quero democracia, não impunidade”). O PT preparou um ato nesta quarta-feira (15) para marcar o registro de candidatura na Justiça eleitoral sob o risco de tê-la negada em razão do enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa, que considera inelegíveis pessoas condenadas em segunda instância. O plano B do partido é substituir o líder petista pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e ter como vice a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB).
“Eu não peço para estar acima da lei, mas um julgamento deve ser justo e imparcial. Essas forças de direita me condenaram, me prenderam, ignoraram a esmagadora evidência de minha inocência e me negaram habeas corpus apenas para tentar me impedir de concorrer à Presidência. Eu peço respeito pela democracia. Se eles querem me derrotar de verdade, façam nas eleições. Segundo a Constituição brasileira, o poder vem do povo, que elege seus representantes. Então deixe o povo brasileiro decidir”, diz o texto, escrito da prisão pelo petista.
No artigo, Lula diz que seu “encarceramento foi a última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil”.
“Com todas as pesquisas mostrando que eu venceria facilmente as eleições de outubro, a extrema direita do Brasil está tentando me tirar da disputa. Minha condenação e prisão são baseadas somente no testemunho de uma pessoa, cuja própria sentença foi reduzida em troca do que ele disse contra mim. Em outras palavras, era do seu interesse pessoal dizer às autoridades o que elas queriam ouvir”, afirma o petista.
O ex-presidente também critica o congelamento de gastos públicos por vinte anos e as mudanças na lei trabalhista promovidas pelo governo de Michel Temer (MDB), que substitui a Dilma Rousseff (PT) após o processo de impeachment. O juiz Sergio Moro “e seus promotores” são descritos como aliados das “forças conservadoras”. “Moro tem sido celebrado pela mídia de direita do Brasil. Ele se tornou intocável. Mas a verdadeira questão não é o Sr. Moro; são aqueles que o elevaram a esse status de intocável: elites de direita, neoliberais, que sempre se opuseram à nossa luta por maior justiça social e igualdade no Brasil.”