O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deve receber nesta segunda-feira, 14, um conjunto de propostas de lideranças de esquerda da América Latina para uma pretensa retomada do protagonismo dos latino-americanos nos cenários regional e global. Na lista de sugestões apresentadas ao petista estarão a retomada da Unasul, grupo para coordenar crises regionais e articular políticas de saúde e de defesa, de discussões para uma moeda única na região “quando as condições macroeconômicas permitirem” e de uma “abordagem comum da dívida externa e do financiamento internacional” para os países menos ricos do continente.
Catapultados pela recente vitória de Lula e pela ascensão de Gustavo Petro na Colômbia e de Gabriel Boric no Chile, sete ex-presidentes, incluindo Dilma Rousseff, onze ex-chanceleres, ex-ministros de Estado e petistas de proa como José Dirceu, Aloizio Mercadante e Tarso Genro, listaram o que consideram importante para uma nova fase de desenvolvimento do Brasil e dos países vizinhos. Endereçada também ao ditador da Venezuela Nicolás Maduro, a missiva não faz qualquer consideração sobre a situação político-social dos venezuelanos.
Criada em 2008, a Unasul, cuja revitalização já havia sido aventada em relatório do think tank americano CEPR, perdeu relevância com a ascensão de governos de direita na região. Em sua nova reconfiguração, a entidade, para além das discussões sobre moeda e dívida, deveria, segundo os signatários da carta, atuar também para a produção e compra conjunta de vacinas, discutir políticas de mudança climática, retomar obras rodoviárias, ferroviárias e energéticas e celebrar acordos para uma “imigração ordenada”. Embora sequer mencionada no documento, a crise no país de Maduro é um importante gargalo para os sul-americanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que ultrapassa a casa dos 6,6 milhões o número de refugiados e migrantes venezuelanos.
Na carta a ser entregue a Lula também há recomendações para que Brasil, Argentina e México atuem de forma conjunta em desafios a serem apresentados pelo G20 – inflação alta está entre os mais relevantes – e para que a futura Unasul, se viabilizada, centre esforços em parcerias na área de segurança pública e acabe, por exemplo, com a exigência de consenso para deliberações no bloco. “O potencial da América do Sul só pode ser realizado na medida em que os países que compõem a sub-região criem um espaço no qual possam se reunir, identificar projetos comuns e desenvolver iniciativas conjuntas. A reconstrução de um espaço efetivo de coordenação sul-americana é, portanto, urgentemente necessária”, diz trecho do documento.