O empresário Eike Batista prestou depoimento nesta segunda-feira e ficou em silêncio ao ser questionado sobre pagamentos de propina a Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio de Janeiro. Ele negou que tivesse relação próxima ao peemedebista, mas admitiu que emprestou um de seus aviões a Cabral.
As afirmações foram feitas em depoimento conduzido pelo juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos desdobramentos em primeira instância da Operação Lava Jato no Rio. O empresário, fundador do Grupo X, é um dos réus da Operação Eficiência, deflagrada em janeiro. “Quero colaborar 100% com a Justiça. É meu dever. Sobre essa questão [suposto pagamento de propina a Cabral], a recomendação dos meus advogados neste instante é ficar em silêncio”, disse Eike, num testemunho que durou 13 minutos.
O empresário está em processo de elaboração dos anexos do acordo de delação premiada que serão entregues ao Ministério Público Federal (MPF). Além de Cabral, Eike citará em sua colaboração o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff (PT).
Eike Batista é acusado de pagar 16,5 milhões de dólares em propinas a Cabral para obter vantagens nos negócios. Além disso, teria desembolsado 1 milhão de reais em propina ao ex-governador por meio de contrato fraudulento com o escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, mulher de Cabral.
Em sua defesa, o empresário afirmou ter feito diversas doações a instituições do Rio, como o Hospital da Criança, em Botafogo, na zona sul. Ele exaltou empreendimentos próprios no estado. “Empreendi alguns grandes projetos no Rio, como o Superporto do Açu e o Porto Sudeste [em Itaguaí], onde foram investidos, em cada um deles, mais ou menos 10 bilhões de reais. Hoje, graças a Deus, ajudam a gerar divisas para o Brasil”, disse o empresário a Bretas.
Eike confirmou o empréstimo de um avião a Cabral, mas ressaltou que a concessão foi feita sem que houvesse uma relação de amizade entre eles. “Tinha três aviões e as pessoas sabiam que eles, muitas vezes, estavam parados. As pessoas tinham liberdade de pedir e é difícil dizer não ao governador de usar o seu maquinário”, afirmou.
A decisão de não emprestar mais aviões a políticos foi tomada após um acidente com um dos aparelhos, disse Eike. “Assim foi feito”, garantiu. O empresário foi indiciado por corrupção ativa e lavagem de dinheiro e está, atualmente, em prisão domiciliar.
Flávio Godinho, ex-vice-presidente do Flamengo e ex-executivo do Grupo EBX, também foi interrogado por Bretas, mas optou por ficar em silêncio. “Quero ratificar que tenho total interesse em colaborar, mas atenderei a orientação dos meus advogados e ficarei calado.”
(Com Estadão Conteúdo)