O presidente Jair Bolsonaro reviveu a retórica de sua campanha eleitoral e atacou a esquerda em seu primeiro discurso no Palácio do Planalto, após receber a faixa presidencial das mãos do ex-presidente Michel Temer (MDB). Dirigindo-se sobretudo aos apoiadores que se concentravam na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro disse do alto do parlatório do palácio que sua posse representa “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”. Ele falou também em “restabelecer a ordem neste país”.
Em outro trecho de sua fala na sede do governo, o presidente disse que “não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade”. O público reagia aos gritos de “mito”, apelido de Jair Bolsonaro entre seus admiradores.
Mesmo quando enumerou os maiores desafios de seu governo, citando a superação da crise econômica e a redução do desemprego, Bolsonaro não deixou de falar em combater “ideologização de nossas crianças”, “desvirtuamento dos direitos humanos” e “desconstrução da família”.
Ao abordar a segurança pública, um dos grandes temas de sua plataforma de governo, o presidente recém-empossado declarou que “também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares”.
Defensor do chamado “excludente de ilicitude”, que consiste na não responsabilização de policiais que matem criminosos durante o exercício do ofício, o pesselista falou em “dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança” e ressaltou que seu governo se preocupará “com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa”.
Outro setor de seu governo que só foi citado pelo presidente para criticar a esquerda foram as relações internacionais, cujo “viés ideológico” ele prometeu “retirar”. O ministro das Relações Exteriores escolhido por Bolsonaro, o diplomata Ernesto Araújo, foi indicado pelo filósofo de extrema-direita Olavo de Carvalho e é um crítico do “marxismo cultural” e do “globalismo”.
Na parte de seu discurso em que não fez ataques a “ideologias nefastas” ou pregou abertamente contra o socialismo, Jair Bolsonaro destacou que montou um governo “sem conchavos ou acertos políticos” e escolheu “ministros técnicos e capazes”. Ao destacar o combate à corrupção, o presidente disse que “favores politizados, partidarizados, devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de verdade a toda Nação”.
Deputado federal integrante do chamado “baixo-clero” da Câmara durante 27 anos, Bolsonaro relegou os partidos na formação do ministério e, em nome do fim do “toma lá, dá cá”, privilegiou indicações vindas de bancadas temáticas. A alternativa adotada pelo pesselista para evitar a troca de pedaços de poder por apoio político levanta dúvidas sobre a capacidade do novo governo para aprovar no Congresso “as transformações de que o país precisa”, como disse o presidente.
“Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do governo sobre quem trabalha e quem produz”, completou.
Leia abaixo a íntegra do discurso de Jair Bolsonaro no parlatório do Palácio do Planalto:
Amigas e amigos de todo o Brasil,
É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como Presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto.
As eleições deram voz a quem não era ouvido. E a voz das ruas e das urnas foi muito clara. E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança.
Também estou aqui para renovar nossas esperanças e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança será possível. Respeitando os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu, vamos promover as transformações de que o país precisa.
Temos recursos minerais abundantes, terras férteis abençoadas por Deus e um povo maravilhoso. Temos uma grande nação para reconstruir e isso faremos juntos.Os primeiros passos já foram dados. Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história.
Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mas ainda há muitos desafios pela frente.
Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade. E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, reestabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil.
A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o governo e a economia sirvam de verdade a toda nação. Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir de agora tem um propósito comum e inegociável: os interesses dos brasileiros em primeiro lugar.
O brasileiro pode e deve sonhar. Sonhar com uma vida melhor, com melhores condições para usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia. E ao governo cabe ser honesto e eficiente.
Apoiando e pavimentando o caminho que nos levará a um futuro melhor, ao invés de criar pedágios e barreiras.
Com este propósito iniciamos nossa caminhada. E com este espírito e determinação que toda equipe de governo assume no dia de hoje.
Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego recorde, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos, e da desconstrução da família.
Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do Governo sobre quem trabalha e quem produz.
Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares.
Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança.
Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica, que é a que realmente transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade social.
Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade.
Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais.
Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e os brasileiros! Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste país.
Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e dos desafios que vamos enfrentar. Mas sabemos aonde queremos chegar e do potencial que o nosso Brasil tem. Por isso vamos dia e noite perseguir o objetivo de tornar o nosso país um lugar próspero e seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores nações do planeta.
Podem contar com toda a minha dedicação para construir o Brasil dos nossos sonhos.
Agradeço a Deus por estar vivo e a vocês que oraram por mim e por minha saúde nos momentos mais difíceis.
Peço ao bom Deus que nos dê sabedoria para conduzir a nação.
Que Deus abençoe esta grande nação.
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.