Em meio à crise política, generais do governo ampliam influência nas redes
O vice Hamilton Mourão e o ministro Augusto Heleno ganharam em torno de 600.000 seguidores cada um desde março; perfil oficial do Exército atraiu 141.000
O espaço que os militares ocuparam no governo do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo após as demissões dos ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, refletiu um aumento de popularidade dos generais nas redes sociais. Um estudo feito pela Bites, uma consultoria que analisa dados para relações governamentais, constatou um ganho expressivo de seguidores nos perfis de dois generais: o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
Segundo a Bites, Heleno conseguiu 654 mil novos seguidores no Twitter e no Instagram desde o dia 1º de março, enquanto Mourão passou a ser acompanhado por outras 558 mil pessoas – agora, cada um possui cerca de 1,6 milhão nas duas redes sociais. Juntos, os generais registram uma média de 57.522 interações em cada postagem feita no período, o que representa quase a totalidade do volume atingido pelos outros 16 ministros e secretários-executivos que estão nas redes sociais (65.329 interações por publicação).
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Clique e AssineA consultoria aponta que as saídas de Moro, do Ministério da Justiça, e de Mandetta, da pasta da Saúde, abriram o espaço para que surgissem novos influenciadores digitais no governo Bolsonaro. Mas chama a atenção que esse vazio tenha sido ocupado tão rápido pelos ministros fardados. Um dos pontos fora da curva é o do general Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército que hoje trabalha como assessor no GSI. Ele teve crescimento de 12% da sua base digital no período estudado, com o ganho de 87 mil novos seguidores.
Fenômeno semelhante foi visto no perfil oficial do Exército brasileiro, que ganhou 141 mil novos seguidores no Twitter – hoje, tem 996.400. Dados fornecidos pelo Google Brasil mostram que as Forças Armadas atingiram a maior taxa de buscas nos últimos doze meses.
Manoel Fernandes, diretor da Bites, atribui o crescimento à exposição que as Forças Armadas tiveram nos últimos meses. Além de terem ampliado a sua influência no governo, os militares ganharam espaço midiático após protestos antidemocráticos realizados por apoiadores de Bolsonaro. O presidente, inclusive, compareceu a duas manifestações que pediam uma intervenção fardada para fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Fernandes afirma que, como os generais não têm o costume de falar com a imprensa, é natural que as pessoas busquem os perfis nas redes sociais para saber como eles se posicionam em relação aos assuntos que estão em pauta no cenário nacional, como a crise política e o combate à Covid-19.
A edição desta semana de VEJA mostra que lideranças políticas de vários espectros ideológicos têm se organizado para formar um movimento de defesa das instituições. As conversas entre antigos desafetos ganharam força diante dos sucessivos ataques feitos por Bolsonaro à democracia.